segunda-feira, 7 de setembro de 2009
MAIS OU MENOS?
Gosto dos Jornalistas, quiçá pela inveja de nunca o ter sido verdadeiramente.
Na realidade, as vezes – umas escassas centenas – em que produzi alguns trabalhos jornalísticos, sobretudo no «HÁ TANTA IDEIA PERDIDA…», tanto na I série, da responsabilidade do Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça nos idos anos oitenta, como na II, órgão oficial da Confraria do Pão, de 2000 a 2005, apesar do entusiasmo com que procurei INFORMAR ou EMITIR OPINIÃO, fiquei sempre com um travo amargo de que o não tinha feito com a objectividade que entendo dever estar presente nos trabalhos jornalísticos. Pruridos, eventualmente, mas…
Quanto a rigor, tantas vezes com sacrifícios que, trazidos à Praça Pública, seria motivo de chacota de gregos e troianos, mesmo com subjectividade, com certeza que o fizemos muito acima do padrão a que nos querem habituar…
Já no que respeita a «independência», tendo presente o(s) estatuto(s) editoriais em causa, sempre o fizemos sem a hipocrisia de nos refugiarmos numa neutralidade formal, que encerra, as mais das vezes, uma despudorada dependência, nomeadamente do poder económico.
Tipo Partido «Socialista» em que (na altura das eleições, já se vê) os discursos se enchem de social mas as primeiras filas das plateias e os reservados das sedes estão pejadas de nababos e oportunistas que encheram o odre com a democracia, para que melhor se cumpra o faz de conta em que vivemos e continuaremos a viver enquanto os poderes se entendam realizar com as touradas do pinho em são bento ou do portas no alandroal e o bom povo português assista, transportado (gratuitamente) nos autocarros da(s) câmara(s) ou na mais que pública televisão, impávido e sereno ou emocionado, à trágica fantochada em que se transformou o exercício da política.
Tudo isto e muito que ficará por escrever, a propósito de uma jovem «jornalista» que trabalha para uma revista «do poder», Mais Alentejo de seu nome.
A rapariga solicitou-nos uma entrevista. Escaldados com alguns servidores de causas obscuras que se disfarçam do mesmo para melhor servir os amos, marcámos condições, nomeadamente duas; SÓ DÁVAMOS A ENTREVISTA POR ESCRITO E A MESMA SERIA PARA PUBLICAR (OU NÃO) NA ÍNTEGRA.
O que não cumpriu, servindo-se parcialmente da mesma para, despudoradamente, promover como «Pão Tradicional Alentejano» uma das muitas falsificações que se produzem no Alentejo. Neste caso, perigosa porque estão em causa quantidades muito significativas, 20.000 PÃES DIÁRIOS, de acordo com a revista de Agosto, no artigo da mesma (Pão nosso de cada dia, in Mais Alentejo, nº94, pág.78, 2ª coluna, 2º parágrafo).
A estas horas estará surpreendida por ainda lhe não termos feito um reparo e/ou uma «denúncia» à ERC, ao abrigo dos artigos 24º e 25º da Lei de Imprensa. Claro que o não faremos, já temos muitos inimigos e também nos não sentimos com vocação para sermos «donos da verdade».
Mas, no nosso Blogue, para os nossos confrades e leitores, cá fica a entrevista, na íntegra, e os votos de que contribua (pouco que seja) para o melhor exercício do Jornalismo.
Também na «Mais Alentejo», numa fase em que os poderes – todos os poderes! – dele, do Alentejo, têm vindo fazendo cada vez MENOS, a não ser na acumulação de riqueza para «meia dúzia».
Já agora, de borla, deixamos uma «oferta» especial à jovem Jornalista, que não terá tido tempo de «pesquisar». Trata-se de um «escrito» de com mais de 700 anos de Maimónidas, filósofo hebreu nascido no Egipto e médico do poderoso sultão Saladino:
“O que entendo por pão correctamente preparado é o que é feito a partir de trigo totalmente maduro, bem seco e sem traço algum de humidade, mas que o tempo não tenha começado sequer a deteriorar. O pão deve ser feito de farinha sem refinar, quer dizer que a casca não se deve tirar e o farelo não se deve fazer mais fino pela joeiragem. Terá que ser muito bem fermentado e não deve estar demasiadamente salgado. Deve, também, ser muito bem amassado e será cozido em forno (a lenha). Tal é o pão que para os médicos está correctamente preparado; e ASSIM É O MELHOR DOS ALIMENTOS...”:
Vai nú, o Rei, quando ostensivamente se olvidam os costumes e o conhecimento dos Povos. Isto da Cultura e da Tradição é uma verdadeira «chatice» para os embusteiros e seus escribas.
Quem diria que, sete séculos volvidos, a definição de bom pão é (quase) a mesma: «Feito com farinhas pouco espoadas e pouco sal, amassadas vagarosamente, levedadas naturalmente, cozido em fornos (a lenha) de baixas temperatura por período de tempo de cerca de uma hora, daqui resultando uma massa homogénea (sem buracos)». Basta juntar esta pequena achega: «desde que estas características lhe não tenham sido transmitidas por produtos manipulados, mesmo que certificados pela União Europeia e suas ASAES».
Como perceberá, cara Susana, muito diferente do «pão» que promoveu. Com uma agravante, para melhor o conseguir serviu-se do testemunho truncado e descontextualizado de um Homem digno que jamais pôs o conhecimento ao serviço do enriquecimento fácil.
Como estamos em «campanha eleitoral» e grassam na sociedade ignorantes a vomitar banalidades, meias verdades (que bem sabemos serem as mais eficazes mentiras) e falsidades, está desculpada!
Vamos então à entrevista que não foi publicada na íntegra, como combinado.
João Madureira
Presidente da Confraria do Pão (Alentejo)
Nota importante:
Respondo simultaneamente como
Médico, com Formação complementar em Nutrição e Alimentação Humana;
Professor Efectivo de Biologia e Saúde durante 24 anos, ora em Licença Sem Vencimento de Longa Duração;
Fundador do Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça (1975) e Animador Cultural desde há 37 anos.
1. Para que melhor possamos contextualizar o assunto, gostávamos de saber um pouco mais sobre a Confraria do Pão. Sobre a sua história e objectivos.
A ideia de criar uma «Confraria do Pão» partiu do Dr. Emílio Peres no início de 1999 e foi entusiasticamente recebida, discutida, burilada e implementada por um conjunto de pessoas ligadas directa e indirectamente à Cultura e ao Alentejo, de que faziam parte Médicos, Artesãos, Animadores Culturais, Padeiros, Agricultores e Professores.
Desde o início que o principal objectivo da Confraria foi cuidar de proteger e promover a «Cultura do Pão», nas suas diversas vertentes, nomeadamente a social, a económica, a científica e a religiosa, sempre norteados pela convicção de que só há desenvolvimento efectivo desde que assegurada a componente Cultural.
No que respeita a realizações e eventos, para além da edição, ora interrompida, do jornal «Há Tanta Ideia Perdida» e de algumas publicações com destaque para os livros «O Pão, o Comer e o Saber Comer para Melhor Viver», colectânea de artigos de Emílio Peres, e «Nasce do Meu Pensamento», com obras de Poesia Popular do Ti Limpas, levámos a efeito diversos Seminários, realizamos anualmente uma Seara e Horta Biológicas, e participámos em inúmeros Congressos científicos, sempre com a preocupação de articular os saberes, isto é, o conhecimento empírico às mais recentes descobertas, sobretudo no que respeita a Alimentação e Nutrição.
E por acreditarmos em Pedrag Matvejevitc, personalidade incontornável da Cultura Mediterrânica, quando refere que «a produção de Pão une as nações do Mediterrâneo confrontando-as com um passado comum que ainda hoje está presente não só na memória mas também na actividade quotidiana dos homens», em 2002, organizámos o 1º Congresso Português de Cultura Mediterrânica, no qual participaram académicos de inúmeros países do Mediterrâneo e do qual resultaram um conjunto de conclusões importantes para o futuro desta região – a Declaração de Terena – activamente ignorada pelos governantes nacionais e regionais – nomeadamente pela CCRA/CCDRA - para melhor poderem implementar as suas estratégias de «desenvolvimento» assentes em mais que duvidosos pins e acrobáticos pinos.
E quanto aos objectivos específicos da Confraria do Pão, todos tendentes a contribuir para a preservação da nossa identidade cultural, remeto os vossos leitores para os nossos blogues http://confrariadopao.blogspot.com e http://joaodopao.blogspot.com.
2. Quantos confrades a integram? Julgamos saber que existem alguns nomes sonantes entre os que mais defendem o nosso pão.
Umas centenas… E há muitos que aguardam por condições internas que nos permitam recebê-los no nosso seio… Mas, neste momento difícil da História do nosso País, interessa lembrar, como Confrades Distintos, o que é substancialmente diferente de «nomes sonantes»:
Entre os que partiram, Emílio Peres, personalidade científica de uma probidade inquestionável; Alfredo Saramago, um autodidacta a quem a Gastronomia Alentejana e Portuguesa tanto deve; António Ribeiro da Ponte, de Arroches, médico de invulgar cultura; José Manuel Torres, do Outeiro (Monsaraz), que foi Moleiro em 22 Moinhos do Guadiana; e o verdadeiro doador da propriedade onde instalámos a nossa sede, José Faustino Anão, criador de cavalos e agricultor.
Entre os mais generosos Confrades, João Godinho, artesão de estanho e animador cultural há mais de 30 anos; Mohamed Motamid F’touh, cidadão marroquino com nacionalidade portuguesa, tradutor e Homem de Cultura universalista; João Duarte Freitas, madeirense radicado em Coimbra desde a década de 60, Médico, uma das personalidades da Cultura Portuguesa que melhor conhece o Alentejo; José Manuel Pacheco Portela, açoriano a exercer Medicina em Coimbra há 30 anos; Manuel António Gouveia Ferreira, Advogado em Famalicão; António dos Santos Silva, transmontano radicado em Paris há mais de 30 anos, Pintor; Manuel Inácio Veladas (Ti Limpas) e Manuel Moura Geadas (Coimbra), poetas populares; António Alfaiate Figueira, pequeno agricultor e ex-autarca durante 26 anos; e o «nosso» João Cordeiro, de Vila Viçosa, ora menos assíduo por motivos de (falta de) Saúde.
Finalmente, entre as personalidades que interessam à «sociedade da comunicação», Mariano Gago, Cláudio Torres, Camilo Mortágua e Manuel Vilas Boas, entre muitos outros.
Também interessa deixar assinalado que ao longo destes anos e por motivos vários, algumas personalidades foram ficando pelo caminho, entre as quais o Professor Carlos Portas, à data Conselheiro de Agricultura do Presidente da República e Presidente da Assembleia Municipal de Alandroal, Luís Mourinha, então Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, e o Arquitecto Paulo Barral, Coordenador da Acção Integrada da Zona dos Mármores da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Alentejo (CCRA/CCDRA).
3. Um pouco sobre a história daquele que hoje reconhecemos ser um típico pão alentejano.
Nem sei a que se refere quando fala num «típico» Pão Alentejano. Mas a História do Pão, também no Alentejo, é a luta pela sobrevivência… O Pão foi, é e seguramente que continuará a ser, o insubstituível companheiro do Homem e o seu incansável mitigador da Fome. Para que estas premissas se verifiquem, foi necessário manter ao longo dos séculos uma assinalável riqueza nutritiva, lado a lado com um sabor de excelência. Quando nos referimos ao «Pão com dentes», mais não é do que a constatação que, mesmo sem «conduto» (acompanhamento), o Pão verdadeiro é um alimento de primeira qualidade. Ou seja, a frugalidade de uma Açorda – não confundir com as manifestações de selvajaria alimentar que são apresentadas aos incautos (e incultos) turistas como gastronomia tradicional – não é, antes pelo contrário, incompatível com a riqueza alimentar e nutritiva.
4. O que distingue um pão alentejano de todos os outros?
Seria interessante formular a pergunta à Engª Ana Soeiro ou às suas colaboradoras a quando da sua acção no Ministério da Agricultura… Em Itália, em 2002, no Ministério da Agricultura Italiano, ficámos a conhecer em pormenor a acção obstrutiva que a Senhora Engenheira levava a efeito em Bruxelas, em nome de Portugal, no sentido de inviabilizar a Certificação do Pão de Altamura, muito parecido com o nosso, tal como o da Sardenha.
Optemos por não enriquecer mais os «certificadores», oficiais ou oficiosos. Apontemos antes, como resposta, o que une/irmana o Pão Alentejano com todos os Pães Tradicionais de todo o mundo: a paciência e o amor em que a sua laboração assenta, recusando a ganância que propala que «tempo é dinheiro!», encobrindo as doenças, perigosas doenças, que resultam da aceleração do processo de laboração e dos aditivos envolvidos, alguns deles «certificados» pelo mesmo poder que gasta milhões a tratar doenças e só disponibiliza tostões, míseros tostões, na prevenção das mesmas. Enfim, já sabíamos que a Saúde não é negócio… negócio, chorudo negócio, é a Doença…
5. Como se prepara, ou melhor, como deve ser feito um verdadeiro pão do Alentejo?
Como todos os Pães Tradicionais… Concretamente, a partir do «Isco/Massa Azeda» que se deixa da cozedura anterior, que se «acrescenta» com farinha pouco espoada (crivo igual ou maior que 80), mais escura portanto; a qual se vai «refrescando» até à «amassadura» que deverá ser lenta e demorada tentando reproduzir mecanicamente o ritual da amassadura manual; depois, com a massa já «finta/levedada», procede-se ao «tender» em que a forma mais indicada é «o Pão de Cabeça»; finalmente, com o forno aquecido (preferentemente com estevas) e bem varrido, «enforna-se» e deixa-se cozer durante cerca de uma hora a «baixas» temperaturas, posto o que podemos «desenfornar» o «pão do nosso contentamento». Tudo isto ocupa cerca de onze horas. De trabalho, claro; mas também e sobretudo de diálogo, profundo diálogo, do Homem com as suas origens, o qual confere, mesmo com o calor do forno e alguma dureza do trabalho físico, um imenso e inebriante prazer.
Contudo, para que estejamos a conceber um genuíno «Pão Alentejano», falta ainda a matéria-prima, o trigo. Desde há décadas que se não produziam no Alentejo os trigos autóctones apropriados para o fabrico do Pão. O nosso Confrade José Pedro Raposo, de Ferreira do Alentejo, verdadeiro Agricultor Biológico, foi desencantar um deles a… Penacova! De há anos para cá, num diálogo melódico com a mãe natureza, tem vindo aumentando a produção do «Sete Cerros» e do «Preto e Amarelo». Mas o Alentejo podia e devia produzir muito mais. Bastava que, quem de direito, tivesse reflectido sobre o ponto nove da referida «Declaração de Terena» em que, em Março de 2002, se dizia:
«Hoje, tal como sempre no mundo mediterrâneo, água em abundância é um bem desejado nos verões secos e luminosos, para poderem ser melhores as condições de vida e poderem alterar-se sustentadamente as estruturas fundiárias sem lesar a especificidade dos espaços desta região. Urge, portanto, endereçar as obras finais do Alqueva, tendo em conta quanto são relevantes para manter vivas – a par de desejável modernização – as regiões, Alentejana, Extremeña e Andaluza, tão arreigada e caracteristicamente mediterrânicas.
Neste âmbito, os congressistas chamam a atenção para o gigantesco investimento público no Empreendimento de Alqueva e consideram indispensável que ele favoreça a biodiversidade, incentive a agricultura biologicamente equilibrada, onde, nomeadamente, se produza o trigo próprio para o pão alentejano, e considere a instalação de zonas experimentais e pedagógicas onde seja obrigatório a poli cultura criativa. Defendem também a contenção de culturas esgotantes ou de quaisquer outras descaracterizantes.»
Mais de sete anos volvidos, os campos do Alentejo atestam o ostracismo com que os governantes (não) acataram estas opiniões, optando, outrossim, pelo incentivo e protecção à agricultura intensiva, nomeadamente à que, depois de arruinar os campos da Andaluzia, se vem instalando nos barros do Baixo Alentejo.
6. Podem os consumidores, chamemos-lhes comuns, distinguir um bom pão alentejano de um qualquer outro que dele só tenha o nome? Como?
Na sociedade da hipocrisia e do faz de conta, evidentemente que não é muito fácil. Sobretudo porque, tal como noutros alimentos, a indústria utiliza uma vasta gama de produtos «para o pão saber a pão», «para dar cor ao pão», «para simular homogeneidade na massa», etc., etc., etc.; enfim, na prática, para que as massas – na maior parte congeladas – acabem por dar origem a um produto que o consumidor possa reconhecer como «pão». Na maioria dos casos, lamentavelmente, pernicioso para a Saúde…
Mas há sempre forma de se reconhecer um Pão Tradicional. Primeiro, verificando a sua composição e excluindo todos os que forem confeccionados com farinhas «corrigidas», isto é, aditivadas «sabe-se lá com o quê» durante o processo de moagem. Depois, os que forem cozidos a temperaturas elevadas e, consequentemente, em pouco tempo, como acontece nos fornos eléctricos. Finalmente, demolhando-o, isto é, juntando-o ao caldo e verificando a sua consistência, ou seja, um Pão Tradicional nunca se «empapa», mesmo no próprio dia em que é confeccionado.
7. A industrialização afectou de alguma forma a sua genuinidade?
8. Perderam-se entretanto alguns dos rituais ligados ao fabrico do Pão
vou responder às duas perguntas em simultâneo)
Evidentemente, sobretudo porque as Polícias (mesmo inconstitucionais) e os Poderes (ainda que Constitucionais) estão mais interessados no «espectáculo» da (pressuposta) «higiene» alimentar, esvaziada de sério, concreto e independente (do poder económico) controlo científico do que na promoção da Saúde. Veja-se o caso do sal, abordado legislativamente com a «inocência» dos ignorantes temperada com a arrogância dos nossos «zelosos guardiães da Saúde Pública». Deixamos duas perguntas: Será por acaso que o Pão que a Confraria produz tem menos de dez gramas/Kg há já mais de um ano e meio? E porque será que, contrariamente aos outros pães, conseguimos fabricá-lo com essa «pequena» quantidade de sal?
9. Como em tantas outras actividades, existe, no que ao pão diz respeito, algumas tentativas de «falsificação»?
No mundo presente em que a «verdade» é cozinhada a mando do poder económico, «falsificação» será, em breve, «o Pão da Confraria»… Pelo menos na boca – e nos órgãos de comunicação social – do poder económico.
10. Julgamos saber que, até há algum tempo atrás a Confraria fabricava o seu próprio pão, mas, por imposição da ASAE, teve de deixar de o fazer. Em que moldes se passou esta situação e em que ponto se encontra?
Não fabricava, fabrica e continuará a fabricar. Não o faz na sua sede, por intervenção da ASAE que lá foi mandada pelo Poder com a premeditada intenção de silenciar a nossa voz, de prejudicar a nossa acção, pela denúncia que uma e outra representam dos politiqueiros oportunistas que vão franqueando as portas para que o Alentejo e os seus recursos, nomeadamente os públicos, mais facilmente sejam saqueados pelos seus (deles, dos politiqueiros) «donos». O que se passou é do domínio público através dos blogues que atrás lhe referi.
O ponto em que se encontra pode resumir-se em duas palavras: já com a (lamentável) intervenção da Justiça, que nos reforçou, em primeira instância, a ideia generalizada na sociedade portuguesa de não ser verdadeiramente independente, decidimo-nos pela implementação de uma pequena Unidade de Produção de Pão Tradicional, em terrenos da Confraria, e que sirva simultaneamente como apoio à «Escola de Padeiros Tradicionais» que prosseguimos desde há anos. Já lá vão mais de três meses que a Câmara Municipal de Alandroal, a exemplo da política de obstrução a que votou a Confraria desde finais de 2002, empata e evita a resposta a que está obrigada em termos de índice urbanístico. Paradoxo maior, este obstáculo, também à criação de doze postos de trabalho, o que deve ser pouco importante para o actual Executivo autárquico, contrasta em absoluto com as facilidades, imensas e curiosas facilidades, com que se vem preparando e apoiando a transformação da Vila de Juromenha e do seu Património público, nomeadamente a Fortaleza, em fonte de rendimento privado. Tudo de acordo com a conhecida estratégia dos pins e pinos, uma vez que da inicial proibição de Projectos Turísticos para as margens de Alqueva se passou à «incentivação» do Turismo como galinha de ovos de ouro… Que vai ser, acreditamos, permitindo-nos porém duvidar que as omoletes algum dia cheguem aos jovens e desempregados alentejanos, ficando-se pelos mesmos offshores onde foram parar a maioria dos fundos comunitários que deveriam ter desenvolvido Portugal, nomeadamente o mundo rural, para onde, inevitavelmente, terão de regressar os milhares de (quase) famintos que vivem nas «cinturas da fome» das grandes cidades.
11. Qual a quantidade de pão produzida pela Confraria e onde era esse produto comercializado?
12. Para quando se prevê o retorno do vosso pão?
vou responder às duas perguntas em simultâneo)
Pequena, muito pequena, muito aquém dos milhares e milhares de quilogramas de encomendas de todo o mundo que temos em carteira e que, contra ventos e marés, havemos de progressivamente ir satisfazendo para que melhor se cumpram os objectivos mais caros à nossa Confraria. Quem dera que irmanados com alguns dos Padeiros Alentejanos, isto é, com todos os que compreenderem que o sinuoso caminho que vêm trilhando desde que «o representante do fermento inglês» os aculturou os conduzirá, inevitavelmente, a «ficar nas mãos» das grandes empresas de panificação e das grandes superfícies comerciais. Grandes, repito, não só na produção e comercialização, como também no embuste!
13. Onde se pode comer bom pão alentejano?
Por vontade da ASAE no estrito cumprimento e interpretação da(s) Lei(s) e a fazer fé nas palavras do Inspector que interveio na audiência de Julgamento, não seria possível uma vez que «qualquer pessoa que esteja a fazer Pão, mesmo que exclusivamente para a sua família, pode ser fiscalizada e impedida de o fabricar se não obedecer às mesmas leis», o que, evidentemente, acontece com a totalidade das centenas e centenas de pessoas que, por todo o Portugal, fazem o seu Pão, ainda que na maioria das vezes com farinhas corrigidas e muito expoadas que são as únicas que conseguem.
Mas ainda há quem resista. Já agora, que os tempos voltaram a ameaçar ser de servidão, nós não só resistimos como não desistimos. E continuaremos a dizer NÃO à indignidade e à subserviência. Enfim, informamos os interessados – mesmo os que ainda não se atreveram a formalizar propostas – que continuamos a não estar à venda.
Assim, todos, independentemente dos seus credos, das suas opções políticas, ou, como agora é moda, de se «resguardarem» na Opus Dei, na Maçonaria ou em ambas, todos, repetimos, estão convidados a degustar o Pão Tradicional Alentejano na nossa Confraria. Sobriamente, isto é, com uma Sopa. Pelo direito à Saúde e… à Higiene Mental!
É que,
Na nossa interpretação
A sopa é maravilhosa
E ainda é mais gostosa
Se for comida com Pão…
Confraria do Pão, 17 de Julho de 2009
quarta-feira, 22 de abril de 2009
OS «FUNCIONÁRIOS» DA COMISSÃO
No Tribunal de Estremoz, a 19 de Abril último, foram lidas as «Respostas ao Quesitos» da Acção que a Ratel pôs contra a Confraria do Pão (fornecimento de Equipamento).
Muito haveria para comentar dado que a Confraria parece não ter conseguido provar o verdadeiro alcance da trama em que se deixou envolver.
Deixando à digna e douta mandatária, Drª Constança Maltez, cuja irrepreensível postura profissional prestigia a Confraria, a abordagem, em sede própria, da matéria que entenda oportuno ver (melhor) esclarecida, não posso silenciar duas afirmações do Senhor Doutor Juiz. Concretamente:
1. Um dos quesitos em discussão respeitava à responsabilidade inequívoca da CCRA e da RATEL na garantia de aprovação do Projecto, cujo teor referia
«Tanto a Autora (Ratel) como os representantes da AIZM/CCRA asseguraram à Ré que o Projecto referido seria aprovado e os subsídios comunitários concedidos?»
Entende o Senhor Doutor Juiz, face o conteúdo dos testemunhos que reteve, que
«apenas se provou que funcionários da AIZM/CCRA asseguraram à Ré que o Projecto referido seria aprovado».
Mais, na sua douta fundamentação, afirma «A actuação – abusiva – de alguns dos seus funcionários não a pode vincular». À CCRA, refere-se.
Aparentemente, estas «conclusões» não seriam graves para a decisão da causa a favor da Confraria do Pão. Contudo, apesar de passíveis de recurso, entendo que desde já deve ficar esclarecido:
- Todas as testemunhas que a Confraria arrolou para responderem a este quesito sabem muito bem que não se tratou de «funcionários» como refere o Senhor Juiz. E disseram-no em Tribunal. Tratou-se do Coordenador da AIZM (Acção Integrada da Zona dos Mármores), o número três na hierarquia da Comissão de Coordenação, e de um dos Vice-Presidentes da CCRA, a ocupar a Presidência. Cargos de nomeação política.
- Acresce que o Gerente da Ratel, amigo íntimo do Vice-Presidente em causa e do Coordenador, serviu-se junto da Direcção da Confraria desse «poder» para, repetidamente, garantir a aprovação do Projecto, tendo ido ao ponto, para justificar porque não levantava os materiais que, desde o início, a Confraria recusara «mesmo com a aprovação do Projecto e a concessão do subsídio» por excessivos e desajustados à sobriedade com que pautava e pauta o seu viver, de «convocar» uma reunião entre o «seu» Vice-Presidente e o Presidente da Confraria, na sua presença, para que, uma vez mais, fosse garantida a aprovação do Projecto.
Na verdade a «reunião» transformou-se em «Almoço de Trabalho» mas o seu conteúdo manteve-se inalterado e a confirmação foi absoluta. No dia 19 de Junho de 2002, dois meses e meio depois do depósito do equipamento escolhido pelo Gerente da Ratel e de que a responsabilidade da Confraria é exclusivamente formal.
Como, aliás, já foi publicitado no artigo «O Pão, o Poder e a Corrupção», que o «Há Tanta Ideia Perdida», jornal da Confraria, publicou em 2004 e nunca foi contestado – nem poderia ser uma vez que corresponde integralmente à verdade – por nenhum dos visados.
Pelo que, mantemos, e deverá a Confraria do Pão manter até ao final da demanda e, sobretudo, para a História desta pobre região do mundo usurpada e vilipendiada pelos «novos vampiros», que
«Tanto a Autora (Ratel) como os representantes da AIZM/CCRA asseguraram à Ré que o Projecto referido seria aprovado e os subsídios comunitários concedidos». E por representantes dever-se-á entender, os principais dirigentes.
Muito haveria para comentar dado que a Confraria parece não ter conseguido provar o verdadeiro alcance da trama em que se deixou envolver.
Deixando à digna e douta mandatária, Drª Constança Maltez, cuja irrepreensível postura profissional prestigia a Confraria, a abordagem, em sede própria, da matéria que entenda oportuno ver (melhor) esclarecida, não posso silenciar duas afirmações do Senhor Doutor Juiz. Concretamente:
1. Um dos quesitos em discussão respeitava à responsabilidade inequívoca da CCRA e da RATEL na garantia de aprovação do Projecto, cujo teor referia
«Tanto a Autora (Ratel) como os representantes da AIZM/CCRA asseguraram à Ré que o Projecto referido seria aprovado e os subsídios comunitários concedidos?»
Entende o Senhor Doutor Juiz, face o conteúdo dos testemunhos que reteve, que
«apenas se provou que funcionários da AIZM/CCRA asseguraram à Ré que o Projecto referido seria aprovado».
Mais, na sua douta fundamentação, afirma «A actuação – abusiva – de alguns dos seus funcionários não a pode vincular». À CCRA, refere-se.
Aparentemente, estas «conclusões» não seriam graves para a decisão da causa a favor da Confraria do Pão. Contudo, apesar de passíveis de recurso, entendo que desde já deve ficar esclarecido:
- Todas as testemunhas que a Confraria arrolou para responderem a este quesito sabem muito bem que não se tratou de «funcionários» como refere o Senhor Juiz. E disseram-no em Tribunal. Tratou-se do Coordenador da AIZM (Acção Integrada da Zona dos Mármores), o número três na hierarquia da Comissão de Coordenação, e de um dos Vice-Presidentes da CCRA, a ocupar a Presidência. Cargos de nomeação política.
- Acresce que o Gerente da Ratel, amigo íntimo do Vice-Presidente em causa e do Coordenador, serviu-se junto da Direcção da Confraria desse «poder» para, repetidamente, garantir a aprovação do Projecto, tendo ido ao ponto, para justificar porque não levantava os materiais que, desde o início, a Confraria recusara «mesmo com a aprovação do Projecto e a concessão do subsídio» por excessivos e desajustados à sobriedade com que pautava e pauta o seu viver, de «convocar» uma reunião entre o «seu» Vice-Presidente e o Presidente da Confraria, na sua presença, para que, uma vez mais, fosse garantida a aprovação do Projecto.
Na verdade a «reunião» transformou-se em «Almoço de Trabalho» mas o seu conteúdo manteve-se inalterado e a confirmação foi absoluta. No dia 19 de Junho de 2002, dois meses e meio depois do depósito do equipamento escolhido pelo Gerente da Ratel e de que a responsabilidade da Confraria é exclusivamente formal.
Como, aliás, já foi publicitado no artigo «O Pão, o Poder e a Corrupção», que o «Há Tanta Ideia Perdida», jornal da Confraria, publicou em 2004 e nunca foi contestado – nem poderia ser uma vez que corresponde integralmente à verdade – por nenhum dos visados.
Pelo que, mantemos, e deverá a Confraria do Pão manter até ao final da demanda e, sobretudo, para a História desta pobre região do mundo usurpada e vilipendiada pelos «novos vampiros», que
«Tanto a Autora (Ratel) como os representantes da AIZM/CCRA asseguraram à Ré que o Projecto referido seria aprovado e os subsídios comunitários concedidos». E por representantes dever-se-á entender, os principais dirigentes.
2. A segunda questão que não deixaremos passar sem comentários, respeita ao quesito que rezava
«Desde o seu fornecimento em Fevereiro de 2002 a Ré tem vindo a utilizar diariamente tais materiais?»
Entendeu o Senhor Juiz que se provou, com os testemunhos dos funcionários da Ratel e os arrolados pela Confraria, que
«Desde o seu fornecimento em Fevereiro de 2002 a Ré tem vindo a utilizar ocasionalmente tais materiais?»
Na verdade, os testemunhos dos funcionários da Ratel, que na sua fundamentação o Senhor Juiz considerou que «depuseram de forma coerente, credível e desinteressada», foram inequívocos em duas afirmações:
«Não voltaram a entrar na Confraria depois de Março de 2002»; o que, curiosamente, é falso, voltaram por duas vezes a tentar resolver o problema dos esgotos das bancadas e da máquina de lavar, sem sucesso.
«Passaram na Estrada e, pelo número de automóveis estacionados, souberam que o material colocado estava a ser utilizado pela Confraria (sic)».
Já os testemunhos do João Cordeiro, do João Godinho, do Ti Limpas e do Mestre Marcelino Paulino, que não sabemos se estarão incluídos nos considerados «pouco credíveis», os quais, com entrada regular na Confraria, «provaram» que:
- boa parte dos materiais nunca foram utilizados;
- parte destes só ficaram na Confraria provisoriamente até o Senhor Gerente da Ratel os mandar levantar e ainda hoje permanecem «encaixotados»;
- a esmagadora maioria está desmontado e às ordens da Ratel há mais de 4 anos;
- só as cadeiras (metade do total), a máquina de café e respectiva bancada tiveram uma utilização ocasional,
não terão bastado para dar como provado o que aconteceu.
E de nada (?) serviu fazer saber ao Tribunal que desde Setembro de 2000 se realizam na Confraria eventos com refeições confeccionadas para centenas de pessoas com na nossa Cozinha «Velha». Os «credíveis e desinteressados» empregados da Ratel, passando de automóvel na Estrada Nacional, têm o condão de perceber que o fogão que estamos a usar é «o supersónico a pagar com o subsídio», preterindo os que já tínhamos antes e continuamos a ter e usar. E que as cadeiras que o seu ex-patrão facturou a três vezes o valor do mercado são preferidas às 122 que a Confraria comprou… um ano antes do Congresso… mesmo que as fotos, inúmeras fotos, publicadas no nosso Jornal dos eventos realizados posteriormente a Março de 2002, incluindo o Congresso de Cultura Mediterrânica, mostrem os participantes sentados… nas nossas cadeiras.
Para a História, as cadeiras de um dos Auditórios, só serviram para quatro Assembleias Gerais (todas realizadas antes da facturação), a apresentação do Livro do Ti Limpas e umas Jornadas Médicas de dois dias. Menos que ocasional, portanto, o seu uso ao longo de sete anos. A máquina de café, um pouco mais, umas trinta vezes.
Uma consideração final. Assistimos a todo o Julgamento. Estamos convictos que pelo menos duas das nossas testemunhas afirmaram – parece que sem credibilidade para o Senhor Doutor Juiz – aquilo que todos, principalmente o gerente da ratel, sabem: que se o Projecto não fosse aprovado a Ratel recebia a maioria dos materiais de volta e os preços dos que ficassem seria alvo de significativo desconto.
Conclusão, provisória: lamentavelmente, o que os Tribunais provam nem sempre corresponde à verdade.
«Desde o seu fornecimento em Fevereiro de 2002 a Ré tem vindo a utilizar diariamente tais materiais?»
Entendeu o Senhor Juiz que se provou, com os testemunhos dos funcionários da Ratel e os arrolados pela Confraria, que
«Desde o seu fornecimento em Fevereiro de 2002 a Ré tem vindo a utilizar ocasionalmente tais materiais?»
Na verdade, os testemunhos dos funcionários da Ratel, que na sua fundamentação o Senhor Juiz considerou que «depuseram de forma coerente, credível e desinteressada», foram inequívocos em duas afirmações:
«Não voltaram a entrar na Confraria depois de Março de 2002»; o que, curiosamente, é falso, voltaram por duas vezes a tentar resolver o problema dos esgotos das bancadas e da máquina de lavar, sem sucesso.
«Passaram na Estrada e, pelo número de automóveis estacionados, souberam que o material colocado estava a ser utilizado pela Confraria (sic)».
Já os testemunhos do João Cordeiro, do João Godinho, do Ti Limpas e do Mestre Marcelino Paulino, que não sabemos se estarão incluídos nos considerados «pouco credíveis», os quais, com entrada regular na Confraria, «provaram» que:
- boa parte dos materiais nunca foram utilizados;
- parte destes só ficaram na Confraria provisoriamente até o Senhor Gerente da Ratel os mandar levantar e ainda hoje permanecem «encaixotados»;
- a esmagadora maioria está desmontado e às ordens da Ratel há mais de 4 anos;
- só as cadeiras (metade do total), a máquina de café e respectiva bancada tiveram uma utilização ocasional,
não terão bastado para dar como provado o que aconteceu.
E de nada (?) serviu fazer saber ao Tribunal que desde Setembro de 2000 se realizam na Confraria eventos com refeições confeccionadas para centenas de pessoas com na nossa Cozinha «Velha». Os «credíveis e desinteressados» empregados da Ratel, passando de automóvel na Estrada Nacional, têm o condão de perceber que o fogão que estamos a usar é «o supersónico a pagar com o subsídio», preterindo os que já tínhamos antes e continuamos a ter e usar. E que as cadeiras que o seu ex-patrão facturou a três vezes o valor do mercado são preferidas às 122 que a Confraria comprou… um ano antes do Congresso… mesmo que as fotos, inúmeras fotos, publicadas no nosso Jornal dos eventos realizados posteriormente a Março de 2002, incluindo o Congresso de Cultura Mediterrânica, mostrem os participantes sentados… nas nossas cadeiras.
Para a História, as cadeiras de um dos Auditórios, só serviram para quatro Assembleias Gerais (todas realizadas antes da facturação), a apresentação do Livro do Ti Limpas e umas Jornadas Médicas de dois dias. Menos que ocasional, portanto, o seu uso ao longo de sete anos. A máquina de café, um pouco mais, umas trinta vezes.
Uma consideração final. Assistimos a todo o Julgamento. Estamos convictos que pelo menos duas das nossas testemunhas afirmaram – parece que sem credibilidade para o Senhor Doutor Juiz – aquilo que todos, principalmente o gerente da ratel, sabem: que se o Projecto não fosse aprovado a Ratel recebia a maioria dos materiais de volta e os preços dos que ficassem seria alvo de significativo desconto.
Conclusão, provisória: lamentavelmente, o que os Tribunais provam nem sempre corresponde à verdade.
sábado, 11 de abril de 2009
LAZARILHO DE TORMES & AS TORMENTAS
"La vida de Lazarillo de Tormes" e os relatos das suas fortunas e adversidades, é uma novela espanhola anónima, cuja edição data de 1554.
É considerada a precursora da novela picaresca, estilo literário que teve muita popularidade na Península Ibérica.
Um dos expoentes deste tipo de novela foi "D. Quixote de La Mancha" de Miguel Cervantes, outro terá sido, "A Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, para dar mais 2 exemplos...
Lazarillo de Tormes é un esboço irónico e desapiedado da sociedade do momento, onde se mostram os seus vícios e as atitudes hipócritas passadas.
Como nos filmes - qualquer semelhança com a realidade actual é pura coincidência...
Vamos ao texto do incógnito Lazarilho:
"Mas como la hambre creciese, mayormente que tenía el estómago hecho a más pan aquellos dos o tres días ya dichos, moría mala muerte; tanto, que otra cosa no hacía, sino abrir y cerrar el arca y contemplar en aquella cara de Dios, que ansí dicen los niños.
Mas el mesmo Dios, trujo a mi memoria un pequeño remedio: “Este arquetón es viejo y roto por algunas partes, aunque pequeños agujeros. Puédese pensar que ratones, entrando en él, hacen daño a este pan. Sacarlo entero no es cosa conveniente (...).
Y comienzo a desmigajar el pan, y tomo uno y dejo otro, de manera que en cada cual de tres o cuatro desmigajé su poco.
Mas él, como viniese a comer y abriese el arca, creyó ser ratones, miró todo el arca y llamóme, diciendo:
- ¡Lázaro, mira, mira qué persecución ha venido aquesta noche por nuestro pan!
Yo híceme muy maravillado, preguntándole qué sería.
- ¿Qué ha de ser? – dijo él - . Ratones, que no dejan cosa en vida.Luego, él rayó con un cuchillo todo lo que pensó ser ratonado, diciendo:
- Cómete eso, que el ratón cosa limpia es.
Y así aquel día, añadiendo la ración del trabajo de mis manos – o de mis uñas, por mejor decir – acabamos de comer. "
Foi assim no século XVI....
terça-feira, 7 de abril de 2009
PA AMB TOMÀQUET (Pão da Catalunha)...
Chego a Espanha, melhor, ao País Catalão, cansado, determinado a passar uns dias com a família. Mostrar-lhes Mundo…
Mas, logo à chegada tenho, invariavelmente, um problema.
Estas viagens (mesmo as curtas), os preparativos, as demoras e as burocracias aeroportuárias, a humilhante necessidade de retirar o cinto, quando não de descalçar-me, transformam-me num indigente esfomeado…
E, sem sofrer de gula, nem de apetites incontrolados, perco-me pelas comidas regionais, perseguindo, implacavelmente, os petiscos tradicionais.
Entro numa casa de tapas preparado para tapear e beber uma caña (cerveja), como normalmente faço na terra de Cervantes…
Acabado de encostar-me à barra (balcão), sou mimoseado - antes de fazer qualquer gesto - com um bocadillho de pão, aberto ao meio, com as duas faces contrapostas irregularmente besuntadas de uma tonalidade escarlate onde alguém com maestria esfregou um tomate partido (segundo ritual próprio) e, discretamente, acrescentou com um pouco de azeite cru, para lhe dar um húmido e espesso… cheira-me a Gaudi, a Miró, Picasso, …
Então toco ao de leve na perna do meu filho pré-adolescente e segredo-lhe:
- Chegamos a Barcelona!
Bebemos (os pequenos… sumos) e comemos, melhor picamos, aqui e acolá, até saciar a ansiedade.
Antes de pedir la cuenta, chamo, de novo, o meu rapaz e aponto-lhe
Bebemos (os pequenos… sumos) e comemos, melhor picamos, aqui e acolá, até saciar a ansiedade.
Antes de pedir la cuenta, chamo, de novo, o meu rapaz e aponto-lhe
- Vês lá em baixo aquela imensa água azul-esverdeada?
- Sim, diz-me ele: é o mar!
- De facto é! Mas quando chegares a um local diferente, a uma casa de família, a um restaurante, a uma taberna e te oferecerem pão barrado com tomate e azeite e, ao longe, vires uma imensidão de água, é o mar. Mas, um mar especial.
- É o Mediterrâneo!
Pai, o que é o Mediterrâneo?....
Bem! Essa é a história que a partir daqui vais começar a aprender…
domingo, 29 de março de 2009
GOVERNO, NEGLIGÊNCIAS, ASAE E TRIBUNAIS...
COERÊNCIA & VERDADE
Escultura de Henry Moore
O Governo português tem sido negligente no uso de uma legítima pretensão de derrogação de algumas particularidades das normas e regulamentos comunitários relativamente aos produtos tradicionais.
Trata-se, sem quaisquer equívocos, de uma função primordial do Estado.
Proteger a identidade nacional, sem entrar em conflito com normas sanitárias de higiene e da protecção da Saúde Pública.
Primeiro, tem sido difícil definir com exactidão o que são produtos tradicionais.
A designação “tradicional” não pode ser vaga, abstracta, nem suscitar confusões.
Assim, em meu entender, produtos tradicionais são espécimes naturais cuja origem, fabrico e matérias-primas conservaram, através de séculos, as primitivas características de sabor (sápidas), decorrente de processos artesanais de fabrico, mantêm odores, fragrâncias e aromas intactos, que lhe advém da preservação da qualidade e especificidade das matérias primas, muitas vezes, ligadas a uma reputada e única “especificidade geográfica”.
Muitos destes produtos estão certificados, tem uma denominação de origem protegida (DOP´s) ou indicação geográfica protegida (IGP´s).
Integrados nestas certificações que contemplam – na maioria das vezes – um exclusivo circuito de comercialização, o que valoriza em todos os sentidos (inclusive o económico) os produtos em causa, existe uma extensa lista, a saber:
- frutos frescos (Beira Litoral, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira);
- outros frutos (amêndoas, azeitonas e castanhas de Trás-os-Montes e Alentejo);
- produtos hortícolas (batata de Trás-os-Montes);
- mel; salsicharia; carnes, azeites, queijos, doçaria tradicional portuguesa, etc.
Outros não estando certificados, por dificuldades burocráticas nacionais que ao longo do tempo não foram despiciendas são, na mesma, produtos tradicionais e a sua preservação está entregue (à guarda) de Associações, Confrarias, Academias, etc.
Tacitamente, entregue, entenda-se!
É necessário saber distinguir o produto tradicional, isto é, que tem especiosidade e se integra há seculares gerações na cultura alimentar portuguesa (nacional ou regional), do produto “tipo tradicional”, segundo a "receita da avó", do “típico”, etc.
Sucessivos governos não trataram atempadamente de propor derrogações parcelares dos regulamentos comunitários nomeadamente em relação a processos de fabrico em que eram usados materiais locais.
Desde o governo de Cavaco Silva que nos "orgulhamos" de ser bons alunos europeus e mantemo-nos mudos e quedos, enquanto o Mundo gira.
Os regulamentos comunitários “plastificaram” tudo.
Ora, p. exº., no caso do pão, é amassado num celha de madeira, tendido numa longa tábua longa de tender (de madeira) e enformado com uma pá de ferro com longo cabo de madeira….
Se seguirmos à letra os regulamentos europeus temos de plastificar todos estas materiais de madeira, objecto de um fanático acossamento por parte da EU.
Foi criado um grupo na Assembleia da Républica para fazer o levantamento destas inconcebíveis situações. Nada está feito.
E nesta deseperada espera – que é pelos menos uma grave negligência - o pão tradicional alentejano – através da Confraria do Pão – é confrontado com a zelosa atitude da ASAE.
Seria interessante analisar – quanto ao pão – a actuação da ASAE.
Seria interessante analisar – quanto ao pão – a actuação da ASAE.
Saber, p. exº., quantas produtoras industriais do chamado “pão tipo alentejano” que, diariamente, abastecem os incautos lisboetas às toneladas… foram inspeccionadas pela ASAE.
Ou existe alguma predilecção inexplicável pelos pequenos produtores, ou pela manufactura artesanal?
Ou existe alguma predilecção inexplicável pelos pequenos produtores, ou pela manufactura artesanal?
Ou algum preconceito contra a autenticidade?
De facto, depois da sentença do Redondo vamos continuar a lutar para que os produtos tradicionais continuem a ter lugar em Portugal. Confundir uma Confraria com uma empresa latu sensu é o mesmo que confundir um guarda-chuva com a Feira de Espinho.
Quanto às questões que suscitaram e despertaram a actuação da ASAE, penso que a Confraria, concomitantemente ao recurso judicial, deve dirigir-se directamente a Bruxelas e solicitar as alterações que julga necessárias introduzir nas directivas comunitárias, para continuar a produzir “pão tradicional alentejano”, sem adulterações. Segundo me informaram o processo é expedito e o deferimento praticamente tácito.
Os Governos franceses e húngaro tiveram o cuidado de salvaguardar as características do “pain courant français” e do “pão tradicional húngaro” quanto à utilização de aditivos regulamentados pela Directiva 95/2/CE, Anexo I.
Procedimento, impensável, no contexto da governação nacional!
De facto, depois da sentença do Redondo vamos continuar a lutar para que os produtos tradicionais continuem a ter lugar em Portugal. Confundir uma Confraria com uma empresa latu sensu é o mesmo que confundir um guarda-chuva com a Feira de Espinho.
Quanto às questões que suscitaram e despertaram a actuação da ASAE, penso que a Confraria, concomitantemente ao recurso judicial, deve dirigir-se directamente a Bruxelas e solicitar as alterações que julga necessárias introduzir nas directivas comunitárias, para continuar a produzir “pão tradicional alentejano”, sem adulterações. Segundo me informaram o processo é expedito e o deferimento praticamente tácito.
Os Governos franceses e húngaro tiveram o cuidado de salvaguardar as características do “pain courant français” e do “pão tradicional húngaro” quanto à utilização de aditivos regulamentados pela Directiva 95/2/CE, Anexo I.
Procedimento, impensável, no contexto da governação nacional!
Em Portugal, não usamos aditivos no pão tradicional. Se acaso os usassemos colocavamo-nos a jeito para a intervenção da ASAE...
É que para sermos justos é preciso coerência e verdade.
Diz o Ti Limpas
NA CONFRARIA DO PÃO
FAZEM UM PÃO ESPECIAL
E AINDA VEM A ASAE
DO QUE É BOM A DIZER MAL
Se tudo quer o progresso
Se o pão é maravilhoso
Quanto a mim é doloroso
Retirar-lhes o sucesso.
Aos governantes lhes peço
Que tomem mais atenção
É uma provocação
Dizer mal do que está bem
Como a ASAE intervém
NA CONFRARIA DO PÃO
Nas padarias de luxo
Aonde o pão se fabrica
S’é bom ou mau não se explica
Razão porque desembucho.
Que me ajuízem se os puxo
Com consciência e moral
Chamarem-me desleal
A tal fim ninguém se atreva
Que fornos quentes a esteva
FAZEM UM PÃO ESPECIAL
Muito fermento inglês
Fará um pão gaudioso
Pode até ser saboroso
Com mais produtos talvez.
Eu desconheço os porquês
Mas esse pão não me envai
Quanto ao outro sobressai
Dá força, dá energia
Com outra filosofia
E AINDA VEM A ASAE
Do que observo me confundo
Brado aos céus e peço a Deus
Que repare qu’há filhos seus
Num descontrolo profundo.
A quererem que seja o mundo
Cada vez mais desigual
Com uma força brutal
Que custa a compreender
Tanta gente ainda haver
DO QUE É BOM A DIZER MAL
MANUEL INÁCIO VELADAS (TI LIMPAS)
FAZEM UM PÃO ESPECIAL
E AINDA VEM A ASAE
DO QUE É BOM A DIZER MAL
Se tudo quer o progresso
Se o pão é maravilhoso
Quanto a mim é doloroso
Retirar-lhes o sucesso.
Aos governantes lhes peço
Que tomem mais atenção
É uma provocação
Dizer mal do que está bem
Como a ASAE intervém
NA CONFRARIA DO PÃO
Nas padarias de luxo
Aonde o pão se fabrica
S’é bom ou mau não se explica
Razão porque desembucho.
Que me ajuízem se os puxo
Com consciência e moral
Chamarem-me desleal
A tal fim ninguém se atreva
Que fornos quentes a esteva
FAZEM UM PÃO ESPECIAL
Muito fermento inglês
Fará um pão gaudioso
Pode até ser saboroso
Com mais produtos talvez.
Eu desconheço os porquês
Mas esse pão não me envai
Quanto ao outro sobressai
Dá força, dá energia
Com outra filosofia
E AINDA VEM A ASAE
Do que observo me confundo
Brado aos céus e peço a Deus
Que repare qu’há filhos seus
Num descontrolo profundo.
A quererem que seja o mundo
Cada vez mais desigual
Com uma força brutal
Que custa a compreender
Tanta gente ainda haver
DO QUE É BOM A DIZER MAL
MANUEL INÁCIO VELADAS (TI LIMPAS)
AO QUE ISTO CHEGOU!
Enquanto não há «Autoridade de Segurança do Pensamento e da Liberdade», analisei, crítica e livremente, o extracto da Sentença do Tribunal de Redondo que a Confraria do Pão publicou no seu blog.
Gostaria de já hoje poder escrever sobre o que me vai na alma sobre a Justiça. Não posso, estou indignado com o que acabo de ler e entendo deixar passar algum tempo para o fazer. Mas posso e devo emitir opinião sobre o que li.
Desde já repudio e denuncio como medida protectora dos grandes interesses económicos, neste caso da Indústria Agro-Alimentar, o «conceito lato de empresa», do Direito Comunitário, a saber:
toda e qualquer organização de meios que possam desenvolver qualquer actividade que se relacione com a produção, transformação ou distribuição de géneros alimentícios, sendo para tal indiferente, se tal actividade é ou não prosseguida com finalidades lucrativas.
Conjugando com a afirmação, não só corrente como repetida no Tribunal de Redondo pela ASAE, de que é seu dever e direito intervir mesmo que se trate de uma família que está fazer pão para consumo próprio, resulta uma actividade de fiscalização da ASAE não só caricata como absolutamente inconstitucional, brigando claramente com os direitos, liberdades e garantias individuais, desde já prescindindo de qualquer Jurista para, convictamente, emitir esta opinião.
Em concreto, sentimos que um magistrado, perante Leis de tamanha iniquidade, tem o dever de saber «administrar a Justiça», resistindo a «servir o Poder» escusando-se nas «Leis e Regulamentos», reservando para si clara independência no «ajuste e interpretação dos mesmos» quando exerce a Justiça.
Assim não sendo, cai-se no ridículo de semanalmente assistirmos a reportagens televisivas em que «as Leis Comunitárias» são letra morta e a «Autoridade Administrativa/ASAE», o Ministério Público e os Juízes são indirectamente «achincalhados».
Não acredito que o(s) Senhor(es) Juiz(es) e demais Magistrados façam a mínima ideia de que são milhares os portugueses que fazem pão em casa por métodos tradicionais, ainda que sujeitando-se a ter de usar «fermento inglês» e farinhas «espoadas», portanto muito menos saudável do que o Pão que a Confraria produz.
Muito menos lhes passará pela cabeça que uma parte significativa desse pão é para «dispensar» a familiares e amigos, ou seja, à luz da Lei Comunitária, para comercializar!
E, ingenuidade das ingenuidades, creio, ainda menos sonham com as condições de Higiene (herdadas do obscurantismo salazarista) que se praticam.
E, para melhor ficar demonstrada a razão da nossa indignação, com uma Autoridade Administrativa tão activa e vigilante, muito menos crêem que sejam centenas e centenas de padarias «artesanais» que, no mundo rural, mantêm a sua laboração como há dezenas de anos, certas de que «no dia em que forem «visitadas» pela «Polícia» fecham as portas e vão prá reforma, pró desemprego ou roubar pra dar de comer aos filhos», deixando mais de 2/3 de Portugal sem pão!
Ou seja, quando o Sr. Juiz afirma que «pela nossa parte, afigura-se-nos que tal questão axial, nestes autos, deve merecer resposta afirmativa, dado que entendemos que aquela medida cautelar de suspensão se mostra necessária, adequada e proporcional, a fim de se salvaguardar a Saúde Pública dos consumidores», só poderá estar a obrigar-nos a lembrar-lhe que são mais de um milhão só os papo-secos/moletes/carcaças/bijus que diariamente são produzidos em Portugal nas condições referidas.
Confundir as duas centenas de Confrades que consomem (consciente e informadamente) o nosso Pão, mais as escassas dezenas de «amigos» da Confraria com, em abstracto, «consumidores» e ir ao ponto de invocar «… em homenagem ao aqueloutro princípio basilar neste domínio, qual seja o da precaução» para considerar necessária, adequada e proporcional, a decisão de suspender de imediato a produção de Pão que a Confraria levava a efeito nas suas instalações, só não é anedótico porque as Sentenças Judiciais são para serem levadas a sério. E ponderadas. Também nas entre linhas.
E, afirmar que «não se deve olvidar que para a cabal salvaguarda daqueles bens jurídicos, não se exige que ocorra uma lesão efectiva dos mesmos, bastando, para o efeito, que haja um perigo abstracto de lesão» confirma a nossa suspeita de que, cada vez mais, todos estamos sujeitos à … abstracção, quando nada de concreto pesar sobre os «diferentes», os «desalinhados», os «livres pensadores» ou os «concretamente independentes» do ignominioso poder reinante.
Dizia o Ti Manel Galhetas, de Terena, num final de tarde de 1980, meio revoltado com os descaminhos que sentia o País estar a rumar: «… Ó meu pobre Portugal estás entregue aos passarinhos!» Não sabia, não sabíamos, que, afinal, o nosso pobre país viria a estar entregue a gente inculta doutorada na arte do «faz de conta».
Tragédia das tragédias, ai de quem pensar em voz alta aquilo que todos já vimos, isto é, que «o rei vai nu!» Pode acabar na prisão. Em concreto, que isso do direito à crítica ou à indignação é só para alguns, mesmo que bem saibamos das suas grandes responsabilidades no que «ao que isto chegou!»
Gostaria de já hoje poder escrever sobre o que me vai na alma sobre a Justiça. Não posso, estou indignado com o que acabo de ler e entendo deixar passar algum tempo para o fazer. Mas posso e devo emitir opinião sobre o que li.
Desde já repudio e denuncio como medida protectora dos grandes interesses económicos, neste caso da Indústria Agro-Alimentar, o «conceito lato de empresa», do Direito Comunitário, a saber:
toda e qualquer organização de meios que possam desenvolver qualquer actividade que se relacione com a produção, transformação ou distribuição de géneros alimentícios, sendo para tal indiferente, se tal actividade é ou não prosseguida com finalidades lucrativas.
Conjugando com a afirmação, não só corrente como repetida no Tribunal de Redondo pela ASAE, de que é seu dever e direito intervir mesmo que se trate de uma família que está fazer pão para consumo próprio, resulta uma actividade de fiscalização da ASAE não só caricata como absolutamente inconstitucional, brigando claramente com os direitos, liberdades e garantias individuais, desde já prescindindo de qualquer Jurista para, convictamente, emitir esta opinião.
Em concreto, sentimos que um magistrado, perante Leis de tamanha iniquidade, tem o dever de saber «administrar a Justiça», resistindo a «servir o Poder» escusando-se nas «Leis e Regulamentos», reservando para si clara independência no «ajuste e interpretação dos mesmos» quando exerce a Justiça.
Assim não sendo, cai-se no ridículo de semanalmente assistirmos a reportagens televisivas em que «as Leis Comunitárias» são letra morta e a «Autoridade Administrativa/ASAE», o Ministério Público e os Juízes são indirectamente «achincalhados».
Não acredito que o(s) Senhor(es) Juiz(es) e demais Magistrados façam a mínima ideia de que são milhares os portugueses que fazem pão em casa por métodos tradicionais, ainda que sujeitando-se a ter de usar «fermento inglês» e farinhas «espoadas», portanto muito menos saudável do que o Pão que a Confraria produz.
Muito menos lhes passará pela cabeça que uma parte significativa desse pão é para «dispensar» a familiares e amigos, ou seja, à luz da Lei Comunitária, para comercializar!
E, ingenuidade das ingenuidades, creio, ainda menos sonham com as condições de Higiene (herdadas do obscurantismo salazarista) que se praticam.
E, para melhor ficar demonstrada a razão da nossa indignação, com uma Autoridade Administrativa tão activa e vigilante, muito menos crêem que sejam centenas e centenas de padarias «artesanais» que, no mundo rural, mantêm a sua laboração como há dezenas de anos, certas de que «no dia em que forem «visitadas» pela «Polícia» fecham as portas e vão prá reforma, pró desemprego ou roubar pra dar de comer aos filhos», deixando mais de 2/3 de Portugal sem pão!
Ou seja, quando o Sr. Juiz afirma que «pela nossa parte, afigura-se-nos que tal questão axial, nestes autos, deve merecer resposta afirmativa, dado que entendemos que aquela medida cautelar de suspensão se mostra necessária, adequada e proporcional, a fim de se salvaguardar a Saúde Pública dos consumidores», só poderá estar a obrigar-nos a lembrar-lhe que são mais de um milhão só os papo-secos/moletes/carcaças/bijus que diariamente são produzidos em Portugal nas condições referidas.
Confundir as duas centenas de Confrades que consomem (consciente e informadamente) o nosso Pão, mais as escassas dezenas de «amigos» da Confraria com, em abstracto, «consumidores» e ir ao ponto de invocar «… em homenagem ao aqueloutro princípio basilar neste domínio, qual seja o da precaução» para considerar necessária, adequada e proporcional, a decisão de suspender de imediato a produção de Pão que a Confraria levava a efeito nas suas instalações, só não é anedótico porque as Sentenças Judiciais são para serem levadas a sério. E ponderadas. Também nas entre linhas.
E, afirmar que «não se deve olvidar que para a cabal salvaguarda daqueles bens jurídicos, não se exige que ocorra uma lesão efectiva dos mesmos, bastando, para o efeito, que haja um perigo abstracto de lesão» confirma a nossa suspeita de que, cada vez mais, todos estamos sujeitos à … abstracção, quando nada de concreto pesar sobre os «diferentes», os «desalinhados», os «livres pensadores» ou os «concretamente independentes» do ignominioso poder reinante.
Dizia o Ti Manel Galhetas, de Terena, num final de tarde de 1980, meio revoltado com os descaminhos que sentia o País estar a rumar: «… Ó meu pobre Portugal estás entregue aos passarinhos!» Não sabia, não sabíamos, que, afinal, o nosso pobre país viria a estar entregue a gente inculta doutorada na arte do «faz de conta».
Tragédia das tragédias, ai de quem pensar em voz alta aquilo que todos já vimos, isto é, que «o rei vai nu!» Pode acabar na prisão. Em concreto, que isso do direito à crítica ou à indignação é só para alguns, mesmo que bem saibamos das suas grandes responsabilidades no que «ao que isto chegou!»
sábado, 21 de março de 2009
O PREÇO DO PÃO (industrial...)
Em pleno tempo de crise, no início de Março, em Coimbra (e provavelmente no resto do País) o preço do pão de produção industrial aumentou.
Sendo o Pão um alimento indispensável para mitigar a fome que se adivinha, os organismos que, em Portugal, representam os consumidores, questionaram as associações de insdustriais da panificação.
Depois de muita embrulhada sobre a "construção" do preço final desse pão industrial (cuja má qualidade tem sido repetidamente denunciada pela Confraria do Pão), a justificação mais plausível, e insistentemente aduzida, foi que o preço trigo/tonelada, estaria em alta.
Foi, então, lançada a previsão de que no 1º. trimestre poderia atingir os 500€/tonelada!
E, como em Portugal nos negócios, há uma cultura de variação de preços no consumidor por antecipação, aumenta-se - preventivamente - os preços, não vá acontecer uma imprevista diminuição dos lucros.
Estamos habituados a este tipo de comportamento, nomeadamente, com os combustíveis. No final do ano transacto assistimos a uma das mais escandalosas especulações comandada pelas empresas distribuidoras de combustíveis, numa situação que levou o governo a investigar se não estaríamos perante um caso de manipula concertada de preços (cartelização).
As pessimistas previsões das associações de moagem e panificação não se verificaram.
Hoje, o preço do trigo está em franca queda no mercado internacional. Na realidade, segundo o Sr.Umali Jr., presidente do PhilBaking (Philippine Baking Industry Group Inc) os preços do trigo, no mercado internacional, caíram para 303 dólares por tonelada!
Qual a razão porque o Governo não actua?
O que faz a Autoridade da Concorrência (AdC)?
domingo, 15 de março de 2009
NEM SEMPRE BADAJOZ ESTÁ À VISTA...
O blog do PSD/Elvas [*]transcreve em 15.03.2009, um post da Confraria do Pão, publicado sob o título:
"SÓCRATES - Panis et Circenses".
Desde já, os nossos agradecimentos pela atenção que os nossos humildes e singelos "escritos" vos merecem.
O post versava um assunto em discussão na AR e que dizia respeito ao Pão. Mais concretamente referia-se à legislação sobre o teor de sal permitido na confecção desse insubstituível alimento.
Mas, para meu descontentamento, verifico que a interpretação do PSD/Elvas não foi das melhores, nem das mais felizes.
A circunstância do poder político mexer no pão, neste momento, foi, por mim, correlacionada com a crise económico e social em aprofundamento no nosso País e no Mundo e, consequentemente, com o surgimento de um provável surto de fome e um sucedâneo aumento do consumo do pão, como resposta alimentar (o pão é histórico mitigador dos "surtos" de fome).
Por que estamos no século XXI, convinha dar um "retoque". Torná-lo, pelo menos na aparência, um produto mais "saudável". Chamou-se à colação questões de Saúde Pública o que é sempre "politicamente correcto". Deixou-se de fora outras questões não menos importantes: a qualidade das farinhas, dos fermentos e a junção de aditivos (tóxicos). O poder passou ao lado de outros produtos que até são conhecidos por "salgadinhos", para falar só de um grupo de aperitivos. A legislação sobre a integração de sal nos alimentos não pode ser avulsa. Tem de ter um fio condutor, coerente e exequível, uma estratégia educacional (educação alimentar) e de adequação de comportamentos aos saberes científicos, estes sim, defensores da Saúde Pública dos cidadãos. Portanto, gato escondido com rabo de fora!
A iniciativa partiu do grupo parlamentar do PS. Como é o suporte político do actual governo foi o directo visado no meu post. Será também, neste fim de ciclo legislativo, o mais interessado em esconder e dissimular a fome.
Na AR, depois de algumas discussões sobre aspectos marginais deste problema, a lei foi aprovada quase por unanimidade (4 ou 5 votos contra).
Portanto, o PSD votou o controlo do sal, sem se aperceber que estava a colaborar na política socrática de panis et circenses.
Logo o PSD, não tem qualquer autoridade para tentar fazer um aproveitamento político da denúncia da Confraria do Pão.
A Confraria move-se por interesses associativistas e agregadores, sem se enfeudar a qualquer partido político.
Interessamo-nos, prioritariamente, pela defesa da qualidade do Pão Tradicional Alentejano, depois, por toda a complexa problemática da confecção do pão em termos de higiene e características nutritivas e, dispendemos muito tempo na denúncia da imbricada situação que a industrialização (panificação e moagem) conduziu o pão.
Finalmente, o pão é, para nós, mais do que um alimento. É, também, uma referência cultural da Humanidade e "marcador" indelével da civilizações que foram passando pela bacia mediterranica. E ficamos por aqui.
Mas, uma vez explicado o nosso posicionamento associativo, existe sempre uma visão política do problema.
Segundo dados do INE, cerca de 2.000.000 de portugueses vivem na pobreza ou no limiar da pobreza (pobreza escondida).
Eles não foram criados de supetão! Foram sendo atirados para a pobreza, nos 30 anos de democracia pós-25 de Abril, pelas políticas neoliberais dos chamados partidos do "arco do poder", isto é, PSD e PS. Por aqueles que não desenvolveram, não criaram riqueza, não a redistribuiram, foram socialmente ineptos, etc.
Acredito que, por razões diferentes, todos condenamos, comentamos e desejamos combater a pobreza... É mais uma aitude cristã do que política.
Mas esse facto, esta convergência, fez lembrar as palavras de um já falecido bispo de Olinda e Recife, D. Helder da Câmara, lutador incansável contra apobreza endémica que varria o Nordeste brasileiro, para além de um intrépido adversário da ditadura militar brasileira.
D. Helder, dizia, frequentemente:
"Quando falo dos esfomeados, chamam-me cristão; quando falo das causas da fome, chamam-me comunista"...
É, isto, caros amigos do PSD/Elvas.
[*]http://psd-elvas.blogspot.com/2009/03/socrates-panis-et-circenses.html
O PÃO QUE A ASSEMBLEIA "AMASSOU"...
sal artesanal de Castro Marim
Segundo a recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) o consumo médio diário de sal deve andar à volta de 6 gramas...
Vamos a contas...
Se a regulamentação aprovada ontem, na AR, for cumprimida, um incógnito cidadão ao
comer meio quilo de pão/dia, terá ultrapassado, só com esse alimento, o teor salino recomendável.
Quanto mais economicamente desfavorecido for o cidadão, mais facilmente substituiu a diversidade alimentar, pelo pão.
Portanto, ontem, em termos de saúde, a Assembleia da República esteve a epater le bourgeois...
A complexa questão nutrição e as suas repercursões na saúde não podem ser tratadas a retalho.
Temos ao nosso dispôr, ao nosso alcance, uma alimentação tradicional mediterranica que necessita de ser estudada, revisitada, mas acima de tudo preservada e resguardada nos seus princípios.
Não precisamos de inventar demasiado. Basta melhorar.
Deixemos as invenções para a nouvelle cuisine e para a cozinha molecular.
As alterações introduzidas nos cultivos agrícolas, nomeadamente os novos processos químicos de fertilização e os organismos geneticamente modificados (OGM), impõem novos estudos sobre a pirâmide alimentar mediterrânica.
É um tarbalho para cientistas que deve recolher a experiência de todos. Organismos e associações que trabalham na área do pão tradicional, nomeadamente na sua preservação com todas as características qualitativas, têm, no que diz respeito ao teor de sal e noutros passos da sua confecção, um savoir-faire acumulado que é valioso.
A Confraria do Pão consegue, hoje, um pão com características sápidas (sabor) agradáveis e aprazíveis que deleitam os seus consumidores, utilizando quase metade do teor do sal, ontem, autorizado pela AR.
Como?
Investigando directamente sobre as metologias de confecção do pão, compreendendo a complexidade da rusticidade dos processos de manufactura e seleccionando as farinhas pela sua qualidade. O "Mundo Rural" tem alguma coisa para partilhar com os mais sofisticados laboratórios.
O que ganhou a Confraria do Pão com isso?
- Um processo judicial promovido pela ASAE por "actividades ilegais de panificação"!
As ciências da Nutrição devem encarar, estudar, os problemas alimentares globalmente e integrar conhecimentos, nomeadamente, os empíricos.
Por isso, ontem, na AR, "fingiu-se" que, cientificamente, se cuidou da saúde dos portugueses e das portuguesas. Na verdade, fez-se chicana política com o pão. Não foram os primeiros. Já Maria Antonieta, rainha de França no séc. XVII, o tinha feito. Todos conhecemos o desenlace.
SÓCRATES - Panis et Circenses
A "questão do sal" no pão é um pretexto. Com certeza uma indulgência que tem lugar numa democracia plastificada.
O pretexto é a saúde pública. Falsa desculpa porque, qualquer português arguto, ao olhar para o insaciável mercado confronta-se com produtos "polvilhados" com sal, açúcar, etc.
O pão, só saltou para a ribalta, porque há fome. Para mitigá-la, mais uma vez, corremos atrás do pão...
Bem. Se na verdade temos motivos para nos socorrer do pão para fazer face à miséria galopante que a actual crise instalou, vamos para além de "plastificá-lo" dar-lhe um "ar" saudável. E assim, normalizamos o teor de sal para os 13 a 14grs/Kg
A partir de agora vamos aguentar os agentes da ASAE equipados com "salómetros" (não vão fazer espectrofotometria para determinar as quantidades de cloreto de sódio) - operando de modo similar aos GNR´s com os medidores da alcoolemia (no Brasil chamam-lhe "bufómetros") - à porta das padarias. Um inolvidável espectáculo!
Não combato a redução do teor de sal no Pão. Essa tem sido uma preocupação e um objectivo da Confraria do Pão nas diversas experimentações que tem levado para confeccionar um pão tradicional que seja ao mesmo tempo um bom nutriente e saudável.
Mas esta medida destina-se à produção industrial e pretende vender a ideia de que os poderes constituídos estão atentos à saúde dos portugueses.
O carácter selectivo da regulamentação é que intriga.
Porquê só o pão?
Só entendo a presente regulamentação porque os legisladores têm à sua vista o espectáculo do espectro da fome a crescer, todos os dias, no horizonte das famílias portuguesas.
O Governo está pior do que Roma nos dias da decadência do Império, onde grassava a devassidão e a corrupção.
Esta medida significa que não poderá fazer o mesmo que Roma. Não tem pão para distribuir e o substituto do circo - o futebol - vive dias difíceis, conturbados e suspeitos.
E não havendo pão para ofertar aos famintos, restava ao Governo transformá-lo num produto, de primeira necessidade (o poder tem perfeita consciência disso), mais "saudável".
O resto, aquilo que outros portugueses comem, no dia a dia, pouco importa. Desta vez, questionou-se no Parlamento, sobre as particularidades do pão tradicional.
Penso que a ressalva verbal feita não contempla o articulado legal. Deixamos, novamente, amplo espaço aos burocratas para as suas cavilosas interpretações ou acabamos, como estamos habituados, nos Tribunais.
Deixemos a lei ser publicada.
A normalização de produtos na União Europeia é o supremo êxtase dos burocratas europeus.
Embora os países da UE só possam impor restrições à livre circulação de mercadorias em casos excepcionais, justificados por razões de interesse público, as restrições são o trivial por "medidas de precaução".
Julgo que a circulação ou o intercâmbio do pão na UE, acabou de entrar nessas "medidas"...
O Comité Europeu de Normalização (CEN), não gosta da denominação de "normalização", talvez por ter uma conotação repressiva, prefere-lhe chamá-las de "harmonização".
Desde meados dos anos oitenta até agora foram publicadas mais de 15 000 normas europeias (normas harmonizadas).
Muitas horas gastas em burocracia.
Não devem ter dispendido um minuto para defenderem o pão tradicional, seja português (alentejano, transmontano, açoreano,..), seja italiano (pão de Altamura), seja francês (baguette,...).
Não tendo pão e circo para oferecer, vai contentar-se com a distribuição do "Magalhães"... pejado de erros ortográficos, às vulneráveis criancinhas!
quarta-feira, 11 de março de 2009
«A ASAE DA NOSSA RE(N)D(I)ENÇÃO»
«A ASAE DA NOSSA RE(N)D(I)ENÇÃO»
A Confraria do Pão foi «visitada» pela ASAE durante a madrugada. Há mais de um ano. Consta que, ingenuamente (?) recebeu os Inspectores como «Amigos», não estranhando a hora e a referência «andámos mais de três horas para encontrar a Confraria».
Um mês depois, nova «visita», agora «aparatosa», digna de manchete no Correio da Manhã, para «encerrar a produção». Que foi pronta e Judicialmente objecto de uma Impugnação.
Um ano (!) depois a Justiça vai pronunciar-se. Isto é:
- O mesmo Estado que fez «orelhas moucas» à argumentação da Confraria de que «é estranho que no mesmo dia em que todos os grupos parlamentares conjugam esforços para remediar a lacuna da legislação no que respeita à produção de produtos tradicionais/artesanais, venham exigir-nos o cumprimento de normas que consideramos excessivas e desajustadas»;
- O mesmo Estado que, por inércia, um ano depois (ainda) não tem legislação específica;
- O mesmo Estado que demora um ano a tornar possível a intervenção da Justiça;
- O mesmo Estado que se não preocupa (nem poderá intervir) nos processos de fabrico dos produtos de panificação que, em quantidades muito significativas, atravessam regularmente as antigas fronteiras da raia, nomeadamente alentejana, para abastecer pequenas e sobretudo grandes superfícies comerciais;
- O mesmo Estado que reconhece Projectos de Interesse Nacional onde os alentejanos só antevêem acumulação de riqueza pelos mesmos que os espoliaram do direito ao trabalho;
- O mesmo Estado que «promete muito e cumpre pouco» em benefício dos seus cidadãos, sobretudo do interior, abandonado,
Esse mesmo Estado, dizíamos, reconheça na Confraria do Pão, exemplo cabal de como se pode e deve contribuir para o Desenvolvimento que enche a boca dos Políticos que aceitam desempenhar papel governante, como «inimiga da Saúde Pública» e, através da sua «Polícia» habituada a, segundo alguns, «estar acima da Lei ou ser a própria Lei», a tente silenciar na sua actividade precisamente de promoção da Saúde Pública através do exemplo, incómodo exemplo para os industriais de panificação que utilizam todos os processos para aumentar o lucro, de como é possível, com o Pão Tradicional, concorrer para a promoção da Saúde Física e Mental, contrariando as perigosas doenças modernas como a Diabetes e a Obesidade.
É evidente que sabemos como e porquê são certificados os produtos obrigatórios a consumir na Panificação, em particular, e na Indústria Alimentar, em geral, na União Europeia.
Aliás, entre outros Mestres, tivemos Manel da Fonseca que, mesmo «censurado», nos alertou:
(…) Mas não podemos esquecer
Que o rico é que faz a lei,
Lei fácil de perceber
Pois só aumenta o poder
Aquele que tudo tem! (…)
Como não duvidamos que a tremenda luta de desmontar a hipocrisia reinante vai ser arrastada e penosa.
Não nos convidem, porém, para desistir. A nossa razão de «tratarmos por tu a Felicidade» assenta na forma digna e independente como procuramos pautar a nossa intervenção sócio-cultural. Ou seja, o poder económico não nos assusta precisamente porque «não estamos à venda», nem somos veículos de acordos obscuros…
Enfim, vai ser difícil silenciar a nossa voz!
A Confraria do Pão foi «visitada» pela ASAE durante a madrugada. Há mais de um ano. Consta que, ingenuamente (?) recebeu os Inspectores como «Amigos», não estranhando a hora e a referência «andámos mais de três horas para encontrar a Confraria».
Um mês depois, nova «visita», agora «aparatosa», digna de manchete no Correio da Manhã, para «encerrar a produção». Que foi pronta e Judicialmente objecto de uma Impugnação.
Um ano (!) depois a Justiça vai pronunciar-se. Isto é:
- O mesmo Estado que fez «orelhas moucas» à argumentação da Confraria de que «é estranho que no mesmo dia em que todos os grupos parlamentares conjugam esforços para remediar a lacuna da legislação no que respeita à produção de produtos tradicionais/artesanais, venham exigir-nos o cumprimento de normas que consideramos excessivas e desajustadas»;
- O mesmo Estado que, por inércia, um ano depois (ainda) não tem legislação específica;
- O mesmo Estado que demora um ano a tornar possível a intervenção da Justiça;
- O mesmo Estado que se não preocupa (nem poderá intervir) nos processos de fabrico dos produtos de panificação que, em quantidades muito significativas, atravessam regularmente as antigas fronteiras da raia, nomeadamente alentejana, para abastecer pequenas e sobretudo grandes superfícies comerciais;
- O mesmo Estado que reconhece Projectos de Interesse Nacional onde os alentejanos só antevêem acumulação de riqueza pelos mesmos que os espoliaram do direito ao trabalho;
- O mesmo Estado que «promete muito e cumpre pouco» em benefício dos seus cidadãos, sobretudo do interior, abandonado,
Esse mesmo Estado, dizíamos, reconheça na Confraria do Pão, exemplo cabal de como se pode e deve contribuir para o Desenvolvimento que enche a boca dos Políticos que aceitam desempenhar papel governante, como «inimiga da Saúde Pública» e, através da sua «Polícia» habituada a, segundo alguns, «estar acima da Lei ou ser a própria Lei», a tente silenciar na sua actividade precisamente de promoção da Saúde Pública através do exemplo, incómodo exemplo para os industriais de panificação que utilizam todos os processos para aumentar o lucro, de como é possível, com o Pão Tradicional, concorrer para a promoção da Saúde Física e Mental, contrariando as perigosas doenças modernas como a Diabetes e a Obesidade.
É evidente que sabemos como e porquê são certificados os produtos obrigatórios a consumir na Panificação, em particular, e na Indústria Alimentar, em geral, na União Europeia.
Aliás, entre outros Mestres, tivemos Manel da Fonseca que, mesmo «censurado», nos alertou:
(…) Mas não podemos esquecer
Que o rico é que faz a lei,
Lei fácil de perceber
Pois só aumenta o poder
Aquele que tudo tem! (…)
Como não duvidamos que a tremenda luta de desmontar a hipocrisia reinante vai ser arrastada e penosa.
Não nos convidem, porém, para desistir. A nossa razão de «tratarmos por tu a Felicidade» assenta na forma digna e independente como procuramos pautar a nossa intervenção sócio-cultural. Ou seja, o poder económico não nos assusta precisamente porque «não estamos à venda», nem somos veículos de acordos obscuros…
Enfim, vai ser difícil silenciar a nossa voz!
«O Festival das Açordas Sem Pão»
Pelo terceiro ano consecutivo a Câmara Municipal de Portel levou a efeito um certame que denomina de «Congresso das Açordas».
Primeiro, com alguma esperança de, no seu «festival», o poder autárquico se não esquecer de homenagear os famintos que dignamente sobreviveram durante séculos alimentando-se frugalmente, depois, com a amargura de constatar como afronta a selvajaria alimentar promovida, temos acompanhado a realização, cada vez mais repositória dos banquetes dos ministros de Salazar que o saudoso Jaime da Manta Branca bem retratou em mais uma (verdadeira) homenagem à «Cultura do Pão» num conhecido improviso forçado pelo patrão Magalhães, na presença do Ministro da Agricultura de então, enquanto os senhores se encharcavam em vinho e devoravam um churrasco de uma vitela poupada à fome que o gado do anfitrião suportava e o «Grupo de Cantares (e dançares) Regionais» da povoação (Cano) interrompia a (sua) função apaziguadora das (justas) tensões sociais que a ditadura alimentava muito melhor que o Magalhães a sua «Boiada».
O Jaime, ameaçado de ficar sem os marrocates que o patrão lhe ia dando como paga do seu imenso trabalho de «ganhão», sem perder a dignidade de quem se sente violentado, avançou para o improviso que teve como mote:
Não vejo senão canalha
De banquete para banquete
Quem produz e quem trabalha
Come açordas sem azeite
O Poeta Popular «Carapinha», de Figueira e Barros, então também «ganhão à do Magalhães», testemunha presencial, confirmou-nos que «o Jaime ditou-as até ao fim», isto é, glosou o mote por inteiro, imagina-se com que mal estar para os senhores…
Vantagem da Democracia, hoje os cantares e dançares regionais, tal como a selvajaria alimentar, não são exclusivo de «canalhas», «todos» se podem servir… Só é preciso ter alguns euros (prá entrada e prós comes).
Desvantagem máxima, está democratizada a incultura!
Estamos seguros, se o nosso Jaime se aproximasse do certame seria impedido de «incomodar» por qualquer polícia arregimentada pelo poder, que mais não fosse porque os poetas populares de agora têm que usar gravata e ir à manicure (certificada pela ASAE?) antes de actuarem enquanto decorre o repasto do «Povo votante» e dos senhores Turistas que trarão (?) desenvolvimento à região.
E trazem, pelo menos no aumento do custo de vida na proporção directa do decréscimo da sua qualidade. Sempre pensando no «interesse nacional», concretizado em empreendimentos fartamente subsidiados pelo erário público. Como a banca...
Sempre e só para reforçar o interesse económico. Que nos condiciona o viver.
Contudo, há quem especule, provocatoriamente(?) que:
- os donos das grandes cadeias alimentares que promovem e veiculam o lixo alimentar que provoca e agudiza tantas doenças;
- os donos da Indústria Farmacêutica que produz os medicamentos para «tratar» as ditas doenças;
- e os donos das Clínicas, Hospitais - e qualquer dia também dos Ministérios da Saúde! – que autorizam, prescrevem e utilizam aqueles medicamentos para tratar aquelas doenças
são os mesmos, ou pelo menos… da mesma «família»!
Tal como os políticos que promovem as suas regiões (onde a fome voltou a existir) confundindo as frugais açordas com selvajaria alimentar. Lamentavelmente com a complacência de pressupostas personalidades do mundo científico que já estão, sem o saberem, no caixote do lixo da História.
(João Madureira, in Emílio Peres, – O Médico, O Professor, O Orador, O Escritor, O Político, O Ilustre Sabedor… - «Sem Cultura Não Há Liberdade», págs. 87 e 88, edição da Universidade do Porto, Novembro de 2008)
A Confraria do Pão que Emílio Peres, sem virar a cara a sacrifícios e canseiras, como era seu timbre, ajudou a erguer, só saberá estar à altura da excelência e do rigor do patamar a que ele nos habituou se assumir, como nós, o incómodo destas denúncias.
Em nome do Pão, «não como um pretexto, mas sim como o cerne de um estilo alimentar e de vida, que urge preservar».
E da defesa (médica) da Saúde assente na frugalidade, na sobriedade e no clarividente respeito pela caminhada de milhares e milhares de anos de persistente aperfeiçoamento – afinamento, nas suas doutas palavras!
Porque, como sublinhou Abel Mariné-Font, Professor da Faculdade de Barcelona e uma das maiores autoridades em «Dieta Mediterrânica»:
“É importante que se diga que
aquilo a que chamamos Alimentação Mediterrânica
é a alimentação quotidiana das classes populares do Mediterrâneo,
a qual é historicamente frugal
e basicamente vegetal com predomínio de cereais e legumes”.
(in Actas do I Congresso de Cultura Mediterrânica, «A Sopa: Conceito e Papel na Bacia Mediterrânica», pág. 272, edição da Confraria do Pão (Alentejo), Novembro de 2002)
Pão e Sopa, braço dado, caracterizam, portanto, a essência desta Alimentação.
E não consta que o esfomeado Lazarillo de Tormes, nos seus sonhos, tenha visto a face de Deus em figura de patinho e muito menos das suas «açordas». Via-a em figura de Pão, o incansável mitigador da fome que, com um pouco de água e uns escassos poejos, mesmo sem azeite, saciou tantos e tantos antepassados dos patos bravos de agora.
Em tempo, esta «provocação» inaugural do Blog tornou-se imperiosa face ao comentário de um visitante do «Festival» que, esta manhã nos confessou a sua desilusão por lá não ter encontrado «pão verdadeiro», como entende necessário para fazer uma verdadeira AÇORDA!
Terminando, por hoje, sem preconceitos politiqueiros, fico a meditar no facto do Senhor Presidente da Câmara de Portel, organizadora do «Festival», ser também o Presidente da Federação Distrital do Partido Socialista.
Finalmente
Sou Confrade fundador da Confraria do Pão (Alentejo). Assumo por inteiro essa condição. Procurarei evitar fundamentalismos, mas não deixarei de tentar opinar em tudo o que directa e indirectamente estiver relacionado com o Projecto de Desenvolvimento que, cojuntamente com outros Homens, começámos a construir em 1999.
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