domingo, 15 de março de 2009

SÓCRATES - Panis et Circenses



A "questão do sal" no pão é um pretexto. Com certeza uma indulgência que tem lugar numa democracia plastificada.
O pretexto é a saúde pública. Falsa desculpa porque, qualquer português arguto, ao olhar para o insaciável mercado confronta-se com produtos "polvilhados" com sal, açúcar, etc.
O pão, só saltou para a ribalta, porque há fome. Para mitigá-la, mais uma vez, corremos atrás do pão...
Bem. Se na verdade temos motivos para nos socorrer do pão para fazer face à miséria galopante que a actual crise instalou, vamos para além de "plastificá-lo" dar-lhe um "ar" saudável. E assim, normalizamos o teor de sal para os 13 a 14grs/Kg
A partir de agora vamos aguentar os agentes da ASAE equipados com "salómetros" (não vão fazer espectrofotometria para determinar as quantidades de cloreto de sódio) - operando de modo similar aos GNR´s com os medidores da alcoolemia (no Brasil chamam-lhe "bufómetros") - à porta das padarias. Um inolvidável espectáculo!
Não combato a redução do teor de sal no Pão. Essa tem sido uma preocupação e um objectivo da Confraria do Pão nas diversas experimentações que tem levado para confeccionar um pão tradicional que seja ao mesmo tempo um bom nutriente e saudável.
Mas esta medida destina-se à produção industrial e pretende vender a ideia de que os poderes constituídos estão atentos à saúde dos portugueses.
O carácter selectivo da regulamentação é que intriga.
Porquê só o pão?
Só entendo a presente regulamentação porque os legisladores têm à sua vista o espectáculo do espectro da fome a crescer, todos os dias, no horizonte das famílias portuguesas.
O Governo está pior do que Roma nos dias da decadência do Império, onde grassava a devassidão e a corrupção.
Esta medida significa que não poderá fazer o mesmo que Roma. Não tem pão para distribuir e o substituto do circo - o futebol - vive dias difíceis, conturbados e suspeitos.
E não havendo pão para ofertar aos famintos, restava ao Governo transformá-lo num produto, de primeira necessidade (o poder tem perfeita consciência disso), mais "saudável".
O resto, aquilo que outros portugueses comem, no dia a dia, pouco importa. Desta vez, questionou-se no Parlamento, sobre as particularidades do pão tradicional.
Penso que a ressalva verbal feita não contempla o articulado legal. Deixamos, novamente, amplo espaço aos burocratas para as suas cavilosas interpretações ou acabamos, como estamos habituados, nos Tribunais.
Deixemos a lei ser publicada.
A normalização de produtos na União Europeia é o supremo êxtase dos burocratas europeus.
Embora os países da UE só possam impor restrições à livre circulação de mercadorias em casos excepcionais, justificados por razões de interesse público, as restrições são o trivial por "medidas de precaução".
Julgo que a circulação ou o intercâmbio do pão na UE, acabou de entrar nessas "medidas"...
O Comité Europeu de Normalização (CEN), não gosta da denominação de "normalização", talvez por ter uma conotação repressiva, prefere-lhe chamá-las de "harmonização".
Desde meados dos anos oitenta até agora foram publicadas mais de 15 000 normas europeias (normas harmonizadas).
Muitas horas gastas em burocracia.
Não devem ter dispendido um minuto para defenderem o pão tradicional, seja português (alentejano, transmontano, açoreano,..), seja italiano (pão de Altamura), seja francês (baguette,...).
Não tendo pão e circo para oferecer, vai contentar-se com a distribuição do "Magalhães"... pejado de erros ortográficos, às vulneráveis criancinhas!

Sem comentários:

Enviar um comentário