quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

As dez traições ao Pão!


Estamos a ultimar umas notas, sob a forma de livro, para sair brevemente. Fica o prefácio para «abrir o apetite», nestes tempos que já são de fome!

Sobejam-nos motivos para escrever estas notas.
Dez anos depois de termos começado a dar forma ao sonho, regressámos ao cais de partida.

E se então nos fazíamos ao mar numa jangada, crentes de que conseguiríamos nela ultrapassar as previsíveis vagas, hoje resta-nos uma casca de noz, é certo que bem ancorada e tratada com tanto de carinho como de cuidado.

É com ela que vamos partir, despojados de muitos dos que, na jangada e fora dela, tudo fizeram para a ver afundar, ingénuamente crentes de que «a ideia» e «a História» com ela seriam sepultadas nas profundezas do mar da sua indignidade.
A qual, medindo meças em tamanho ao Adamastor, seria, no seu entender, mais que suficiente para nos amedrontar ad eterno.

Não foi, resistimos, estamos vivos, e «a ideia», afinal, está cada vez mais arreigada no coração dos que, com o seu trabalho, com o(s) seu(s) saber(es), sempre com Amor, vão construindo o futuro.

Para todos, isto é, também para os que se governam chorudamente prometendo aos outros «um futuro de abundância» certos de assim melhor conseguirem preservar a sua aptidão para a ganância que aperfeiçoam no presente. Com que vão delapidando os cofres públicos; com que vão torturando os mais humildes; com que vão, numa palavra, enxovalhando «O PÃO».

O que o leitor paciente vai ficar a conhecer não é nada que se possa comparar com o sofrimento de milhões e milhões de nossos irmãos que todos os dias lutam, com todos os meios, para matar a fome com … uma migalha de Pão. Que muitas vezes, milhões de vezes, dia após dia, mês após mês, ano atrás de ano, não conseguem. E partem, tantas e tantas vezes ainda crianças…
Mas é o grito de revolta de quem se não deixa silenciar pelos que «não querem que se saibam as verdades», ou seja, os que enchem a boca de «conhecimento». Dócil e servido em embalagens modernas que assegurem a… ignorância!

Para que melhor se perpetue a exploração do Homem, pelo outro homem. Para que melhor se cumpra o fado na sua dimensão obscurantista – somos todos Homens, mas uns são mais homens que os outros!

E, portanto, é «justo» que sejam os mais «importantes» a decidir… o destino de todos! Como lhes aprouver, se necessário «sem ouvir os seus irmãos de caminhada»; tolhendo-lhes e moldando-lhes o «pensamento»; silenciando-os com balas, bombas ou de forma mais sofisticada, quando, com essas práticas, não conseguem evitar que discordem e se atrevam a emitir opinião, mesmo que documentada.

Assim está o mundo «democrático» em que (sobre)vivemos. E que, «enquanto há força», queremos ajudar a transformar. Também com estas notas.


Elegemos a CCRA, que ora se designa por Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA), um bom exemplo de como são desbaratados os milhões que os nossos netos, bisnetos e tetranetos, continuarão a pagar à União Europeia com «juros» bem mais altos do que os nossos filhos já suportam na carne: o desemprego galopante e a esperança sempre adiada, anestesiada em ocupações menores gratificadas «à rico».


Fevereiro de 2010