sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A Fome, a arrogância e a hipocrisia beata

(Mural de João Pedro e Augusto Casaca, do Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça, Vila Viçosa, Primavera de 1977, foto de Francisco Lourinhã, à data Presidente da Câmara de V.V.)

A Casa de Bragança foi um constante pesadelo para o Alentejo. Poderosa, venal, usurpadora e por vezes cruel, impôs a sua presença, banqueteando-se em Vila Viçosa, cavalgando em Alter, imolando em Évora e caçando por toda a planície. Contribuiu, como calamidade histórica, para a miséria do Alentejo. Enquanto poderosa, não trouxe pão ao Alentejo, como podia e devia; enquanto venal, usurpadora e cruel, associou-se sempre ao poder (até o montar!) e prontificou-se a dar continuidade à repressão que ao longo dos séculos vitimizou estes povos. Foi pela sua importância, pela durabilidade da sua influência e pela proximidade histórica, uma das pragas do Alentejo e um incontornável suporte dos referenciados “CICLOS DE FOME” que fustigaram a planície
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(João Duarte Freitas, Histórias da Fome e da Arrogância, Coimbra, Agosto de 2000)

As Festas dos Capuchos estão de volta e estão melhores
...
Por fim, é com entusiasmo que anuncio a vinda de «El rei D. Carlos às Festas dos Capuchos», uma iniciativa cultural única que nos levará de volta ao século XIX.
Nesta recriação histórica a comitiva real, liderada por D. Carlos, percorre o Largos dos Capuchos, dirigindo-se, depois da passagem pela Igreja, à praça de Touros onde se vão reviver momentos de trabalho agrícola e de lazer, com a encenação, por exemplo, de uma desfolhada e de uma caçada real.
Para este momento de rara beleza…
Francisco Chagas
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Vila Viçosa


DIA 11, 22h
Num regresso ao século XIX vamos assistir à recriação histórica da chegada da comitiva real, liderada por El Rei D. Carlos, ao Largo dos Capuchos.
Senhores e servos vão assistir à passagem do cortejo real que, rumo à Praça de Touros, culmina com a encenação de uma desfolhada e de uma caçada real
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(Francisco Chagas é também o Presidente do Secretariado do PS em Vila Viçosa)

Decorre este ano o centenário da implantação da República. Curiosamente, as duas Bandas Filarmónicas à data existentes em Vila Viçosa foram as primeiras a chegar a Lisboa, para desfilar na Avenida da Liberdade assinalando a queda da Monarquia.
Um século, primeiro de esperança, depois de obscurantismo salazarista que o 25 de Abril se propôs enterrar. Não o conseguindo, muito por culpa da arrogância que tem caracterizado o exercício do novo poder. Assim, neste tempo governado pelo «rei milhão», a corrupção era inevitável. Voltou a Fome, agora atingindo sobretudo os que se viram obrigados a migrar dos campos para junto das grandes cidades, como tantos e tantos alentejanos.
Arrogância bem patente na violenta marginalização do Buiça, arredado das comemorações pelos reis da moda. Não admira, pois, que não tenha ocorrido aos organizadores da «recriação histórica», leia-se branqueamento do passado naquilo que ele teve de arrogante, usurpador e cruel, convidar um grupo de figurantes para participar na simultânea arruaça com que se assinalaria a contestação que levou à queda da monarquia.
Se o Mariano Maurício não tivesse sido «empurrado» para o Canadá pelos «herdeiros dos braganças» ou se o pai Leote ainda por cá andasse, seguramente que, à passagem do cortejo que o Vereador Chagas aguarda com entusiasmo, se ouviriam as justas vozes da revolta. Assim, só os «irmãos» e «primos»…
Bem sabemos que os banquetes «dos Braganças» ficam caros ao erário público mas, pelo menos hipocritamente, se estes aceitassem participar, sempre poderiam ficar com … «os restos». Afinal, trata-se de gente que se reivindica de sóbria…
E seria forma de não parecer ofensa à res-pública.

Nota: interessante seria ver o cortejo real arruaçado pelos jovens «homens da luta», presos pela Guarda Nacional Republicana por protestarem contra o rei! Tudo com transmissão directa na... SIC!