segunda-feira, 7 de setembro de 2009

MAIS OU MENOS?



Gosto dos Jornalistas, quiçá pela inveja de nunca o ter sido verdadeiramente.
Na realidade, as vezes – umas escassas centenas – em que produzi alguns trabalhos jornalísticos, sobretudo no «HÁ TANTA IDEIA PERDIDA…», tanto na I série, da responsabilidade do Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça nos idos anos oitenta, como na II, órgão oficial da Confraria do Pão, de 2000 a 2005, apesar do entusiasmo com que procurei INFORMAR ou EMITIR OPINIÃO, fiquei sempre com um travo amargo de que o não tinha feito com a objectividade que entendo dever estar presente nos trabalhos jornalísticos. Pruridos, eventualmente, mas…
Quanto a rigor, tantas vezes com sacrifícios que, trazidos à Praça Pública, seria motivo de chacota de gregos e troianos, mesmo com subjectividade, com certeza que o fizemos muito acima do padrão a que nos querem habituar…
Já no que respeita a «independência», tendo presente o(s) estatuto(s) editoriais em causa, sempre o fizemos sem a hipocrisia de nos refugiarmos numa neutralidade formal, que encerra, as mais das vezes, uma despudorada dependência, nomeadamente do poder económico.
Tipo Partido «Socialista» em que (na altura das eleições, já se vê) os discursos se enchem de social mas as primeiras filas das plateias e os reservados das sedes estão pejadas de nababos e oportunistas que encheram o odre com a democracia, para que melhor se cumpra o faz de conta em que vivemos e continuaremos a viver enquanto os poderes se entendam realizar com as touradas do pinho em são bento ou do portas no alandroal e o bom povo português assista, transportado (gratuitamente) nos autocarros da(s) câmara(s) ou na mais que pública televisão, impávido e sereno ou emocionado, à trágica fantochada em que se transformou o exercício da política.
Tudo isto e muito que ficará por escrever, a propósito de uma jovem «jornalista» que trabalha para uma revista «do poder», Mais Alentejo de seu nome.
A rapariga solicitou-nos uma entrevista. Escaldados com alguns servidores de causas obscuras que se disfarçam do mesmo para melhor servir os amos, marcámos condições, nomeadamente duas; SÓ DÁVAMOS A ENTREVISTA POR ESCRITO E A MESMA SERIA PARA PUBLICAR (OU NÃO) NA ÍNTEGRA.
O que não cumpriu, servindo-se parcialmente da mesma para, despudoradamente, promover como «Pão Tradicional Alentejano» uma das muitas falsificações que se produzem no Alentejo. Neste caso, perigosa porque estão em causa quantidades muito significativas, 20.000 PÃES DIÁRIOS, de acordo com a revista de Agosto, no artigo da mesma (Pão nosso de cada dia, in Mais Alentejo, nº94, pág.78, 2ª coluna, 2º parágrafo).
A estas horas estará surpreendida por ainda lhe não termos feito um reparo e/ou uma «denúncia» à ERC, ao abrigo dos artigos 24º e 25º da Lei de Imprensa. Claro que o não faremos, já temos muitos inimigos e também nos não sentimos com vocação para sermos «donos da verdade».
Mas, no nosso Blogue, para os nossos confrades e leitores, cá fica a entrevista, na íntegra, e os votos de que contribua (pouco que seja) para o melhor exercício do Jornalismo.
Também na «Mais Alentejo», numa fase em que os poderes – todos os poderes! – dele, do Alentejo, têm vindo fazendo cada vez MENOS, a não ser na acumulação de riqueza para «meia dúzia».
Já agora, de borla, deixamos uma «oferta» especial à jovem Jornalista, que não terá tido tempo de «pesquisar». Trata-se de um «escrito» de com mais de 700 anos de Maimónidas, filósofo hebreu nascido no Egipto e médico do poderoso sultão Saladino:
“O que entendo por pão correctamente preparado é o que é feito a partir de trigo totalmente maduro, bem seco e sem traço algum de humidade, mas que o tempo não tenha começado sequer a deteriorar. O pão deve ser feito de farinha sem refinar, quer dizer que a casca não se deve tirar e o farelo não se deve fazer mais fino pela joeiragem. Terá que ser muito bem fermentado e não deve estar demasiadamente salgado. Deve, também, ser muito bem amassado e será cozido em forno (a lenha). Tal é o pão que para os médicos está correctamente preparado; e ASSIM É O MELHOR DOS ALIMENTOS...”:
Vai nú, o Rei, quando ostensivamente se olvidam os costumes e o conhecimento dos Povos. Isto da Cultura e da Tradição é uma verdadeira «chatice» para os embusteiros e seus escribas.
Quem diria que, sete séculos volvidos, a definição de bom pão é (quase) a mesma: «Feito com farinhas pouco espoadas e pouco sal, amassadas vagarosamente, levedadas naturalmente, cozido em fornos (a lenha) de baixas temperatura por período de tempo de cerca de uma hora, daqui resultando uma massa homogénea (sem buracos)». Basta juntar esta pequena achega: «desde que estas características lhe não tenham sido transmitidas por produtos manipulados, mesmo que certificados pela União Europeia e suas ASAES».
Como perceberá, cara Susana, muito diferente do «pão» que promoveu. Com uma agravante, para melhor o conseguir serviu-se do testemunho truncado e descontextualizado de um Homem digno que jamais pôs o conhecimento ao serviço do enriquecimento fácil.
Como estamos em «campanha eleitoral» e grassam na sociedade ignorantes a vomitar banalidades, meias verdades (que bem sabemos serem as mais eficazes mentiras) e falsidades, está desculpada!

Vamos então à entrevista que não foi publicada na íntegra, como combinado.


João Madureira
Presidente da Confraria do Pão (Alentejo)

Nota importante:
Respondo simultaneamente como
Médico, com Formação complementar em Nutrição e Alimentação Humana;
Professor Efectivo de Biologia e Saúde durante 24 anos, ora em Licença Sem Vencimento de Longa Duração;
Fundador do Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça (1975) e Animador Cultural desde há 37 anos.

1. Para que melhor possamos contextualizar o assunto, gostávamos de saber um pouco mais sobre a Confraria do Pão. Sobre a sua história e objectivos.

A ideia de criar uma «Confraria do Pão» partiu do Dr. Emílio Peres no início de 1999 e foi entusiasticamente recebida, discutida, burilada e implementada por um conjunto de pessoas ligadas directa e indirectamente à Cultura e ao Alentejo, de que faziam parte Médicos, Artesãos, Animadores Culturais, Padeiros, Agricultores e Professores.
Desde o início que o principal objectivo da Confraria foi cuidar de proteger e promover a «Cultura do Pão», nas suas diversas vertentes, nomeadamente a social, a económica, a científica e a religiosa, sempre norteados pela convicção de que só há desenvolvimento efectivo desde que assegurada a componente Cultural.
No que respeita a realizações e eventos, para além da edição, ora interrompida, do jornal «Há Tanta Ideia Perdida» e de algumas publicações com destaque para os livros «O Pão, o Comer e o Saber Comer para Melhor Viver», colectânea de artigos de Emílio Peres, e «Nasce do Meu Pensamento», com obras de Poesia Popular do Ti Limpas, levámos a efeito diversos Seminários, realizamos anualmente uma Seara e Horta Biológicas, e participámos em inúmeros Congressos científicos, sempre com a preocupação de articular os saberes, isto é, o conhecimento empírico às mais recentes descobertas, sobretudo no que respeita a Alimentação e Nutrição.
E por acreditarmos em Pedrag Matvejevitc, personalidade incontornável da Cultura Mediterrânica, quando refere que «a produção de Pão une as nações do Mediterrâneo confrontando-as com um passado comum que ainda hoje está presente não só na memória mas também na actividade quotidiana dos homens», em 2002, organizámos o 1º Congresso Português de Cultura Mediterrânica, no qual participaram académicos de inúmeros países do Mediterrâneo e do qual resultaram um conjunto de conclusões importantes para o futuro desta região – a Declaração de Terena – activamente ignorada pelos governantes nacionais e regionais – nomeadamente pela CCRA/CCDRA - para melhor poderem implementar as suas estratégias de «desenvolvimento» assentes em mais que duvidosos pins e acrobáticos pinos.
E quanto aos objectivos específicos da Confraria do Pão, todos tendentes a contribuir para a preservação da nossa identidade cultural, remeto os vossos leitores para os nossos blogues http://confrariadopao.blogspot.com e http://joaodopao.blogspot.com.

2. Quantos confrades a integram? Julgamos saber que existem alguns nomes sonantes entre os que mais defendem o nosso pão.

Umas centenas… E há muitos que aguardam por condições internas que nos permitam recebê-los no nosso seio… Mas, neste momento difícil da História do nosso País, interessa lembrar, como Confrades Distintos, o que é substancialmente diferente de «nomes sonantes»:
Entre os que partiram, Emílio Peres, personalidade científica de uma probidade inquestionável; Alfredo Saramago, um autodidacta a quem a Gastronomia Alentejana e Portuguesa tanto deve; António Ribeiro da Ponte, de Arroches, médico de invulgar cultura; José Manuel Torres, do Outeiro (Monsaraz), que foi Moleiro em 22 Moinhos do Guadiana; e o verdadeiro doador da propriedade onde instalámos a nossa sede, José Faustino Anão, criador de cavalos e agricultor.
Entre os mais generosos Confrades, João Godinho, artesão de estanho e animador cultural há mais de 30 anos; Mohamed Motamid F’touh, cidadão marroquino com nacionalidade portuguesa, tradutor e Homem de Cultura universalista; João Duarte Freitas, madeirense radicado em Coimbra desde a década de 60, Médico, uma das personalidades da Cultura Portuguesa que melhor conhece o Alentejo; José Manuel Pacheco Portela, açoriano a exercer Medicina em Coimbra há 30 anos; Manuel António Gouveia Ferreira, Advogado em Famalicão; António dos Santos Silva, transmontano radicado em Paris há mais de 30 anos, Pintor; Manuel Inácio Veladas (Ti Limpas) e Manuel Moura Geadas (Coimbra), poetas populares; António Alfaiate Figueira, pequeno agricultor e ex-autarca durante 26 anos; e o «nosso» João Cordeiro, de Vila Viçosa, ora menos assíduo por motivos de (falta de) Saúde.
Finalmente, entre as personalidades que interessam à «sociedade da comunicação», Mariano Gago, Cláudio Torres, Camilo Mortágua e Manuel Vilas Boas, entre muitos outros.
Também interessa deixar assinalado que ao longo destes anos e por motivos vários, algumas personalidades foram ficando pelo caminho, entre as quais o Professor Carlos Portas, à data Conselheiro de Agricultura do Presidente da República e Presidente da Assembleia Municipal de Alandroal, Luís Mourinha, então Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, e o Arquitecto Paulo Barral, Coordenador da Acção Integrada da Zona dos Mármores da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Alentejo (CCRA/CCDRA).

3. Um pouco sobre a história daquele que hoje reconhecemos ser um típico pão alentejano.

Nem sei a que se refere quando fala num «típico» Pão Alentejano. Mas a História do Pão, também no Alentejo, é a luta pela sobrevivência… O Pão foi, é e seguramente que continuará a ser, o insubstituível companheiro do Homem e o seu incansável mitigador da Fome. Para que estas premissas se verifiquem, foi necessário manter ao longo dos séculos uma assinalável riqueza nutritiva, lado a lado com um sabor de excelência. Quando nos referimos ao «Pão com dentes», mais não é do que a constatação que, mesmo sem «conduto» (acompanhamento), o Pão verdadeiro é um alimento de primeira qualidade. Ou seja, a frugalidade de uma Açorda – não confundir com as manifestações de selvajaria alimentar que são apresentadas aos incautos (e incultos) turistas como gastronomia tradicional – não é, antes pelo contrário, incompatível com a riqueza alimentar e nutritiva.

4. O que distingue um pão alentejano de todos os outros?

Seria interessante formular a pergunta à Engª Ana Soeiro ou às suas colaboradoras a quando da sua acção no Ministério da Agricultura… Em Itália, em 2002, no Ministério da Agricultura Italiano, ficámos a conhecer em pormenor a acção obstrutiva que a Senhora Engenheira levava a efeito em Bruxelas, em nome de Portugal, no sentido de inviabilizar a Certificação do Pão de Altamura, muito parecido com o nosso, tal como o da Sardenha.
Optemos por não enriquecer mais os «certificadores», oficiais ou oficiosos. Apontemos antes, como resposta, o que une/irmana o Pão Alentejano com todos os Pães Tradicionais de todo o mundo: a paciência e o amor em que a sua laboração assenta, recusando a ganância que propala que «tempo é dinheiro!», encobrindo as doenças, perigosas doenças, que resultam da aceleração do processo de laboração e dos aditivos envolvidos, alguns deles «certificados» pelo mesmo poder que gasta milhões a tratar doenças e só disponibiliza tostões, míseros tostões, na prevenção das mesmas. Enfim, já sabíamos que a Saúde não é negócio… negócio, chorudo negócio, é a Doença…

5. Como se prepara, ou melhor, como deve ser feito um verdadeiro pão do Alentejo?

Como todos os Pães Tradicionais… Concretamente, a partir do «Isco/Massa Azeda» que se deixa da cozedura anterior, que se «acrescenta» com farinha pouco espoada (crivo igual ou maior que 80), mais escura portanto; a qual se vai «refrescando» até à «amassadura» que deverá ser lenta e demorada tentando reproduzir mecanicamente o ritual da amassadura manual; depois, com a massa já «finta/levedada», procede-se ao «tender» em que a forma mais indicada é «o Pão de Cabeça»; finalmente, com o forno aquecido (preferentemente com estevas) e bem varrido, «enforna-se» e deixa-se cozer durante cerca de uma hora a «baixas» temperaturas, posto o que podemos «desenfornar» o «pão do nosso contentamento». Tudo isto ocupa cerca de onze horas. De trabalho, claro; mas também e sobretudo de diálogo, profundo diálogo, do Homem com as suas origens, o qual confere, mesmo com o calor do forno e alguma dureza do trabalho físico, um imenso e inebriante prazer.
Contudo, para que estejamos a conceber um genuíno «Pão Alentejano», falta ainda a matéria-prima, o trigo. Desde há décadas que se não produziam no Alentejo os trigos autóctones apropriados para o fabrico do Pão. O nosso Confrade José Pedro Raposo, de Ferreira do Alentejo, verdadeiro Agricultor Biológico, foi desencantar um deles a… Penacova! De há anos para cá, num diálogo melódico com a mãe natureza, tem vindo aumentando a produção do «Sete Cerros» e do «Preto e Amarelo». Mas o Alentejo podia e devia produzir muito mais. Bastava que, quem de direito, tivesse reflectido sobre o ponto nove da referida «Declaração de Terena» em que, em Março de 2002, se dizia:
«Hoje, tal como sempre no mundo mediterrâneo, água em abundância é um bem desejado nos verões secos e luminosos, para poderem ser melhores as condições de vida e poderem alterar-se sustentadamente as estruturas fundiárias sem lesar a especificidade dos espaços desta região. Urge, portanto, endereçar as obras finais do Alqueva, tendo em conta quanto são relevantes para manter vivas – a par de desejável modernização – as regiões, Alentejana, Extremeña e Andaluza, tão arreigada e caracteristicamente mediterrânicas.
Neste âmbito, os congressistas chamam a atenção para o gigantesco investimento público no Empreendimento de Alqueva e consideram indispensável que ele favoreça a biodiversidade, incentive a agricultura biologicamente equilibrada, onde, nomeadamente, se produza o trigo próprio para o pão alentejano, e considere a instalação de zonas experimentais e pedagógicas onde seja obrigatório a poli cultura criativa. Defendem também a contenção de culturas esgotantes ou de quaisquer outras descaracterizantes.»
Mais de sete anos volvidos, os campos do Alentejo atestam o ostracismo com que os governantes (não) acataram estas opiniões, optando, outrossim, pelo incentivo e protecção à agricultura intensiva, nomeadamente à que, depois de arruinar os campos da Andaluzia, se vem instalando nos barros do Baixo Alentejo.

6. Podem os consumidores, chamemos-lhes comuns, distinguir um bom pão alentejano de um qualquer outro que dele só tenha o nome? Como?

Na sociedade da hipocrisia e do faz de conta, evidentemente que não é muito fácil. Sobretudo porque, tal como noutros alimentos, a indústria utiliza uma vasta gama de produtos «para o pão saber a pão», «para dar cor ao pão», «para simular homogeneidade na massa», etc., etc., etc.; enfim, na prática, para que as massas – na maior parte congeladas – acabem por dar origem a um produto que o consumidor possa reconhecer como «pão». Na maioria dos casos, lamentavelmente, pernicioso para a Saúde…
Mas há sempre forma de se reconhecer um Pão Tradicional. Primeiro, verificando a sua composição e excluindo todos os que forem confeccionados com farinhas «corrigidas», isto é, aditivadas «sabe-se lá com o quê» durante o processo de moagem. Depois, os que forem cozidos a temperaturas elevadas e, consequentemente, em pouco tempo, como acontece nos fornos eléctricos. Finalmente, demolhando-o, isto é, juntando-o ao caldo e verificando a sua consistência, ou seja, um Pão Tradicional nunca se «empapa», mesmo no próprio dia em que é confeccionado.

7. A industrialização afectou de alguma forma a sua genuinidade?
8. Perderam-se entretanto alguns dos rituais ligados ao fabrico do Pão

vou responder às duas perguntas em simultâneo)

Evidentemente, sobretudo porque as Polícias (mesmo inconstitucionais) e os Poderes (ainda que Constitucionais) estão mais interessados no «espectáculo» da (pressuposta) «higiene» alimentar, esvaziada de sério, concreto e independente (do poder económico) controlo científico do que na promoção da Saúde. Veja-se o caso do sal, abordado legislativamente com a «inocência» dos ignorantes temperada com a arrogância dos nossos «zelosos guardiães da Saúde Pública». Deixamos duas perguntas: Será por acaso que o Pão que a Confraria produz tem menos de dez gramas/Kg há já mais de um ano e meio? E porque será que, contrariamente aos outros pães, conseguimos fabricá-lo com essa «pequena» quantidade de sal?

9. Como em tantas outras actividades, existe, no que ao pão diz respeito, algumas tentativas de «falsificação»?

No mundo presente em que a «verdade» é cozinhada a mando do poder económico, «falsificação» será, em breve, «o Pão da Confraria»… Pelo menos na boca – e nos órgãos de comunicação social – do poder económico.

10. Julgamos saber que, até há algum tempo atrás a Confraria fabricava o seu próprio pão, mas, por imposição da ASAE, teve de deixar de o fazer. Em que moldes se passou esta situação e em que ponto se encontra?

Não fabricava, fabrica e continuará a fabricar. Não o faz na sua sede, por intervenção da ASAE que lá foi mandada pelo Poder com a premeditada intenção de silenciar a nossa voz, de prejudicar a nossa acção, pela denúncia que uma e outra representam dos politiqueiros oportunistas que vão franqueando as portas para que o Alentejo e os seus recursos, nomeadamente os públicos, mais facilmente sejam saqueados pelos seus (deles, dos politiqueiros) «donos». O que se passou é do domínio público através dos blogues que atrás lhe referi.
O ponto em que se encontra pode resumir-se em duas palavras: já com a (lamentável) intervenção da Justiça, que nos reforçou, em primeira instância, a ideia generalizada na sociedade portuguesa de não ser verdadeiramente independente, decidimo-nos pela implementação de uma pequena Unidade de Produção de Pão Tradicional, em terrenos da Confraria, e que sirva simultaneamente como apoio à «Escola de Padeiros Tradicionais» que prosseguimos desde há anos. Já lá vão mais de três meses que a Câmara Municipal de Alandroal, a exemplo da política de obstrução a que votou a Confraria desde finais de 2002, empata e evita a resposta a que está obrigada em termos de índice urbanístico. Paradoxo maior, este obstáculo, também à criação de doze postos de trabalho, o que deve ser pouco importante para o actual Executivo autárquico, contrasta em absoluto com as facilidades, imensas e curiosas facilidades, com que se vem preparando e apoiando a transformação da Vila de Juromenha e do seu Património público, nomeadamente a Fortaleza, em fonte de rendimento privado. Tudo de acordo com a conhecida estratégia dos pins e pinos, uma vez que da inicial proibição de Projectos Turísticos para as margens de Alqueva se passou à «incentivação» do Turismo como galinha de ovos de ouro… Que vai ser, acreditamos, permitindo-nos porém duvidar que as omoletes algum dia cheguem aos jovens e desempregados alentejanos, ficando-se pelos mesmos offshores onde foram parar a maioria dos fundos comunitários que deveriam ter desenvolvido Portugal, nomeadamente o mundo rural, para onde, inevitavelmente, terão de regressar os milhares de (quase) famintos que vivem nas «cinturas da fome» das grandes cidades.

11. Qual a quantidade de pão produzida pela Confraria e onde era esse produto comercializado?
12. Para quando se prevê o retorno do vosso pão?

vou responder às duas perguntas em simultâneo)

Pequena, muito pequena, muito aquém dos milhares e milhares de quilogramas de encomendas de todo o mundo que temos em carteira e que, contra ventos e marés, havemos de progressivamente ir satisfazendo para que melhor se cumpram os objectivos mais caros à nossa Confraria. Quem dera que irmanados com alguns dos Padeiros Alentejanos, isto é, com todos os que compreenderem que o sinuoso caminho que vêm trilhando desde que «o representante do fermento inglês» os aculturou os conduzirá, inevitavelmente, a «ficar nas mãos» das grandes empresas de panificação e das grandes superfícies comerciais. Grandes, repito, não só na produção e comercialização, como também no embuste!

13. Onde se pode comer bom pão alentejano?

Por vontade da ASAE no estrito cumprimento e interpretação da(s) Lei(s) e a fazer fé nas palavras do Inspector que interveio na audiência de Julgamento, não seria possível uma vez que «qualquer pessoa que esteja a fazer Pão, mesmo que exclusivamente para a sua família, pode ser fiscalizada e impedida de o fabricar se não obedecer às mesmas leis», o que, evidentemente, acontece com a totalidade das centenas e centenas de pessoas que, por todo o Portugal, fazem o seu Pão, ainda que na maioria das vezes com farinhas corrigidas e muito expoadas que são as únicas que conseguem.
Mas ainda há quem resista. Já agora, que os tempos voltaram a ameaçar ser de servidão, nós não só resistimos como não desistimos. E continuaremos a dizer NÃO à indignidade e à subserviência. Enfim, informamos os interessados – mesmo os que ainda não se atreveram a formalizar propostas – que continuamos a não estar à venda.
Assim, todos, independentemente dos seus credos, das suas opções políticas, ou, como agora é moda, de se «resguardarem» na Opus Dei, na Maçonaria ou em ambas, todos, repetimos, estão convidados a degustar o Pão Tradicional Alentejano na nossa Confraria. Sobriamente, isto é, com uma Sopa. Pelo direito à Saúde e… à Higiene Mental!
É que,
Na nossa interpretação
A sopa é maravilhosa
E ainda é mais gostosa
Se for comida com Pão…

Confraria do Pão, 17 de Julho de 2009