domingo, 29 de março de 2009

GOVERNO, NEGLIGÊNCIAS, ASAE E TRIBUNAIS...


















COERÊNCIA & VERDADE

Escultura de Henry Moore


O Governo português tem sido negligente no uso de uma legítima pretensão de derrogação de algumas particularidades das normas e regulamentos comunitários relativamente aos produtos tradicionais.

Trata-se, sem quaisquer equívocos, de uma função primordial do Estado.
Proteger a identidade nacional, sem entrar em conflito com normas sanitárias de higiene e da protecção da Saúde Pública.

Primeiro, tem sido difícil definir com exactidão o que são produtos tradicionais.
A designação “tradicional” não pode ser vaga, abstracta, nem suscitar confusões.
Assim, em meu entender, produtos tradicionais são espécimes naturais cuja origem, fabrico e matérias-primas conservaram, através de séculos, as primitivas características de sabor (sápidas), decorrente de processos artesanais de fabrico, mantêm odores, fragrâncias e aromas intactos, que lhe advém da preservação da qualidade e especificidade das matérias primas, muitas vezes, ligadas a uma reputada e única “especificidade geográfica”.

Muitos destes produtos estão certificados, tem uma denominação de origem protegida (DOP´s) ou indicação geográfica protegida (IGP´s).

Integrados nestas certificações que contemplam – na maioria das vezes – um exclusivo circuito de comercialização, o que valoriza em todos os sentidos (inclusive o económico) os produtos em causa, existe uma extensa lista, a saber:
- frutos frescos (Beira Litoral, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira);
- outros frutos (amêndoas, azeitonas e castanhas de Trás-os-Montes e Alentejo);
- produtos hortícolas (batata de Trás-os-Montes);
- mel; salsicharia; carnes, azeites, queijos, doçaria tradicional portuguesa, etc.

Outros não estando certificados, por dificuldades burocráticas nacionais que ao longo do tempo não foram despiciendas são, na mesma, produtos tradicionais e a sua preservação está entregue (à guarda) de Associações, Confrarias, Academias, etc.
Tacitamente, entregue, entenda-se!

É necessário saber distinguir o produto tradicional, isto é, que tem especiosidade e se integra há seculares gerações na cultura alimentar portuguesa (nacional ou regional), do produto “tipo tradicional”, segundo a "receita da avó", do “típico”, etc.

Sucessivos governos não trataram atempadamente de propor derrogações parcelares dos regulamentos comunitários nomeadamente em relação a processos de fabrico em que eram usados materiais locais.
Desde o governo de Cavaco Silva que nos "orgulhamos" de ser bons alunos europeus e mantemo-nos mudos e quedos, enquanto o Mundo gira.

Os regulamentos comunitários “plastificaram” tudo.
Ora, p. exº., no caso do pão, é amassado num celha de madeira, tendido numa longa tábua longa de tender (de madeira) e enformado com uma pá de ferro com longo cabo de madeira….
Se seguirmos à letra os regulamentos europeus temos de plastificar todos estas materiais de madeira, objecto de um fanático acossamento por parte da EU.

Foi criado um grupo na Assembleia da Républica para fazer o levantamento destas inconcebíveis situações. Nada está feito.
E nesta deseperada espera – que é pelos menos uma grave negligência - o pão tradicional alentejano – através da Confraria do Pão – é confrontado com a zelosa atitude da ASAE.
Seria interessante analisar – quanto ao pão – a actuação da ASAE.
Saber, p. exº., quantas produtoras industriais do chamado “pão tipo alentejano” que, diariamente, abastecem os incautos lisboetas às toneladas… foram inspeccionadas pela ASAE.
Ou existe alguma predilecção inexplicável pelos pequenos produtores, ou pela manufactura artesanal?
Ou algum preconceito contra a autenticidade?

De facto, depois da sentença do Redondo vamos continuar a lutar para que os produtos tradicionais continuem a ter lugar em Portugal. Confundir uma Confraria com uma empresa latu sensu é o mesmo que confundir um guarda-chuva com a Feira de Espinho.

Quanto às questões que suscitaram e despertaram a actuação da ASAE, penso que a Confraria, concomitantemente ao recurso judicial, deve dirigir-se directamente a Bruxelas e solicitar as alterações que julga necessárias introduzir nas directivas comunitárias, para continuar a produzir “pão tradicional alentejano”, sem adulterações. Segundo me informaram o processo é expedito e o deferimento praticamente tácito.

Os Governos franceses e húngaro tiveram o cuidado de salvaguardar as características do “pain courant français” e do “pão tradicional húngaro” quanto à utilização de aditivos regulamentados pela Directiva 95/2/CE, Anexo I.

Procedimento, impensável, no contexto da governação nacional!
Em Portugal, não usamos aditivos no pão tradicional. Se acaso os usassemos colocavamo-nos a jeito para a intervenção da ASAE...
É que para sermos justos é preciso coerência e verdade.

Diz o Ti Limpas

NA CONFRARIA DO PÃO
FAZEM UM PÃO ESPECIAL
E AINDA VEM A ASAE
DO QUE É BOM A DIZER MAL

Se tudo quer o progresso
Se o pão é maravilhoso
Quanto a mim é doloroso
Retirar-lhes o sucesso.
Aos governantes lhes peço
Que tomem mais atenção
É uma provocação
Dizer mal do que está bem
Como a ASAE intervém
NA CONFRARIA DO PÃO

Nas padarias de luxo
Aonde o pão se fabrica
S’é bom ou mau não se explica
Razão porque desembucho.
Que me ajuízem se os puxo
Com consciência e moral
Chamarem-me desleal
A tal fim ninguém se atreva
Que fornos quentes a esteva
FAZEM UM PÃO ESPECIAL

Muito fermento inglês
Fará um pão gaudioso
Pode até ser saboroso
Com mais produtos talvez.
Eu desconheço os porquês
Mas esse pão não me envai
Quanto ao outro sobressai
Dá força, dá energia
Com outra filosofia
E AINDA VEM A ASAE

Do que observo me confundo
Brado aos céus e peço a Deus
Que repare qu’há filhos seus
Num descontrolo profundo.
A quererem que seja o mundo
Cada vez mais desigual
Com uma força brutal
Que custa a compreender
Tanta gente ainda haver
DO QUE É BOM A DIZER MAL

MANUEL INÁCIO VELADAS (TI LIMPAS)

AO QUE ISTO CHEGOU!

Enquanto não há «Autoridade de Segurança do Pensamento e da Liberdade», analisei, crítica e livremente, o extracto da Sentença do Tribunal de Redondo que a Confraria do Pão publicou no seu blog.
Gostaria de já hoje poder escrever sobre o que me vai na alma sobre a Justiça. Não posso, estou indignado com o que acabo de ler e entendo deixar passar algum tempo para o fazer. Mas posso e devo emitir opinião sobre o que li.
Desde já repudio e denuncio como medida protectora dos grandes interesses económicos, neste caso da Indústria Agro-Alimentar, o «conceito lato de empresa», do Direito Comunitário, a saber:
toda e qualquer organização de meios que possam desenvolver qualquer actividade que se relacione com a produção, transformação ou distribuição de géneros alimentícios, sendo para tal indiferente, se tal actividade é ou não prosseguida com finalidades lucrativas.
Conjugando com a afirmação, não só corrente como repetida no Tribunal de Redondo pela ASAE, de que é seu dever e direito intervir mesmo que se trate de uma família que está fazer pão para consumo próprio, resulta uma actividade de fiscalização da ASAE não só caricata como absolutamente inconstitucional, brigando claramente com os direitos, liberdades e garantias individuais, desde já prescindindo de qualquer Jurista para, convictamente, emitir esta opinião.
Em concreto, sentimos que um magistrado, perante Leis de tamanha iniquidade, tem o dever de saber «administrar a Justiça», resistindo a «servir o Poder» escusando-se nas «Leis e Regulamentos», reservando para si clara independência no «ajuste e interpretação dos mesmos» quando exerce a Justiça.
Assim não sendo, cai-se no ridículo de semanalmente assistirmos a reportagens televisivas em que «as Leis Comunitárias» são letra morta e a «Autoridade Administrativa/ASAE», o Ministério Público e os Juízes são indirectamente «achincalhados».
Não acredito que o(s) Senhor(es) Juiz(es) e demais Magistrados façam a mínima ideia de que são milhares os portugueses que fazem pão em casa por métodos tradicionais, ainda que sujeitando-se a ter de usar «fermento inglês» e farinhas «espoadas», portanto muito menos saudável do que o Pão que a Confraria produz.
Muito menos lhes passará pela cabeça que uma parte significativa desse pão é para «dispensar» a familiares e amigos, ou seja, à luz da Lei Comunitária, para comercializar!
E, ingenuidade das ingenuidades, creio, ainda menos sonham com as condições de Higiene (herdadas do obscurantismo salazarista) que se praticam.
E, para melhor ficar demonstrada a razão da nossa indignação, com uma Autoridade Administrativa tão activa e vigilante, muito menos crêem que sejam centenas e centenas de padarias «artesanais» que, no mundo rural, mantêm a sua laboração como há dezenas de anos, certas de que «no dia em que forem «visitadas» pela «Polícia» fecham as portas e vão prá reforma, pró desemprego ou roubar pra dar de comer aos filhos», deixando mais de 2/3 de Portugal sem pão!
Ou seja, quando o Sr. Juiz afirma que «pela nossa parte, afigura-se-nos que tal questão axial, nestes autos, deve merecer resposta afirmativa, dado que entendemos que aquela medida cautelar de suspensão se mostra necessária, adequada e proporcional, a fim de se salvaguardar a Saúde Pública dos consumidores», só poderá estar a obrigar-nos a lembrar-lhe que são mais de um milhão só os papo-secos/moletes/carcaças/bijus que diariamente são produzidos em Portugal nas condições referidas.
Confundir as duas centenas de Confrades que consomem (consciente e informadamente) o nosso Pão, mais as escassas dezenas de «amigos» da Confraria com, em abstracto, «consumidores» e ir ao ponto de invocar «… em homenagem ao aqueloutro princípio basilar neste domínio, qual seja o da precaução» para considerar necessária, adequada e proporcional, a decisão de suspender de imediato a produção de Pão que a Confraria levava a efeito nas suas instalações, só não é anedótico porque as Sentenças Judiciais são para serem levadas a sério. E ponderadas. Também nas entre linhas.
E, afirmar que «não se deve olvidar que para a cabal salvaguarda daqueles bens jurídicos, não se exige que ocorra uma lesão efectiva dos mesmos, bastando, para o efeito, que haja um perigo abstracto de lesão» confirma a nossa suspeita de que, cada vez mais, todos estamos sujeitos à … abstracção, quando nada de concreto pesar sobre os «diferentes», os «desalinhados», os «livres pensadores» ou os «concretamente independentes» do ignominioso poder reinante.
Dizia o Ti Manel Galhetas, de Terena, num final de tarde de 1980, meio revoltado com os descaminhos que sentia o País estar a rumar: «… Ó meu pobre Portugal estás entregue aos passarinhos!» Não sabia, não sabíamos, que, afinal, o nosso pobre país viria a estar entregue a gente inculta doutorada na arte do «faz de conta».
Tragédia das tragédias, ai de quem pensar em voz alta aquilo que todos já vimos, isto é, que «o rei vai nu!» Pode acabar na prisão. Em concreto, que isso do direito à crítica ou à indignação é só para alguns, mesmo que bem saibamos das suas grandes responsabilidades no que «ao que isto chegou!»

sábado, 21 de março de 2009

O PREÇO DO PÃO (industrial...)


Em pleno tempo de crise, no início de Março, em Coimbra (e provavelmente no resto do País) o preço do pão de produção industrial aumentou.
Sendo o Pão um alimento indispensável para mitigar a fome que se adivinha, os organismos que, em Portugal, representam os consumidores, questionaram as associações de insdustriais da panificação.
Depois de muita embrulhada sobre a "construção" do preço final desse pão industrial (cuja má qualidade tem sido repetidamente denunciada pela Confraria do Pão), a justificação mais plausível, e insistentemente aduzida, foi que o preço trigo/tonelada, estaria em alta.
Foi, então, lançada a previsão de que no 1º. trimestre poderia atingir os 500€/tonelada!
E, como em Portugal nos negócios, há uma cultura de variação de preços no consumidor por antecipação, aumenta-se - preventivamente - os preços, não vá acontecer uma imprevista diminuição dos lucros.
Estamos habituados a este tipo de comportamento, nomeadamente, com os combustíveis. No final do ano transacto assistimos a uma das mais escandalosas especulações comandada pelas empresas distribuidoras de combustíveis, numa situação que levou o governo a investigar se não estaríamos perante um caso de manipula concertada de preços (cartelização).
As pessimistas previsões das associações de moagem e panificação não se verificaram.
Hoje, o preço do trigo está em franca queda no mercado internacional. Na realidade, segundo o Sr.Umali Jr., presidente do PhilBaking (Philippine Baking Industry Group Inc) os preços do trigo, no mercado internacional, caíram para 303 dólares por tonelada!
Qual a razão porque o Governo não actua?
O que faz a Autoridade da Concorrência (AdC)?

domingo, 15 de março de 2009

NEM SEMPRE BADAJOZ ESTÁ À VISTA...



O blog do PSD/Elvas [*]transcreve em 15.03.2009, um post da Confraria do Pão, publicado sob o título:
"SÓCRATES - Panis et Circenses".

Desde já, os nossos agradecimentos pela atenção que os nossos humildes e singelos "escritos" vos merecem.
O post versava um assunto em discussão na AR e que dizia respeito ao Pão. Mais concretamente referia-se à legislação sobre o teor de sal permitido na confecção desse insubstituível alimento.

Mas, para meu descontentamento, verifico que a interpretação do PSD/Elvas não foi das melhores, nem das mais felizes.
A circunstância do poder político mexer no pão, neste momento, foi, por mim, correlacionada com a crise económico e social em aprofundamento no nosso País e no Mundo e, consequentemente, com o surgimento de um provável surto de fome e um sucedâneo aumento do consumo do pão, como resposta alimentar (o pão é histórico mitigador dos "surtos" de fome).
Por que estamos no século XXI, convinha dar um "retoque". Torná-lo, pelo menos na aparência, um produto mais "saudável". Chamou-se à colação questões de Saúde Pública o que é sempre "politicamente correcto". Deixou-se de fora outras questões não menos importantes: a qualidade das farinhas, dos fermentos e a junção de aditivos (tóxicos). O poder passou ao lado de outros produtos que até são conhecidos por "salgadinhos", para falar só de um grupo de aperitivos. A legislação sobre a integração de sal nos alimentos não pode ser avulsa. Tem de ter um fio condutor, coerente e exequível, uma estratégia educacional (educação alimentar) e de adequação de comportamentos aos saberes científicos, estes sim, defensores da Saúde Pública dos cidadãos. Portanto, gato escondido com rabo de fora!
A iniciativa partiu do grupo parlamentar do PS. Como é o suporte político do actual governo foi o directo visado no meu post. Será também, neste fim de ciclo legislativo, o mais interessado em esconder e dissimular a fome.
Na AR, depois de algumas discussões sobre aspectos marginais deste problema, a lei foi aprovada quase por unanimidade (4 ou 5 votos contra).
Portanto, o PSD votou o controlo do sal, sem se aperceber que estava a colaborar na política socrática de panis et circenses.
Logo o PSD, não tem qualquer autoridade para tentar fazer um aproveitamento político da denúncia da Confraria do Pão.
A Confraria move-se por interesses associativistas e agregadores, sem se enfeudar a qualquer partido político.
Interessamo-nos, prioritariamente, pela defesa da qualidade do Pão Tradicional Alentejano, depois, por toda a complexa problemática da confecção do pão em termos de higiene e características nutritivas e, dispendemos muito tempo na denúncia da imbricada situação que a industrialização (panificação e moagem) conduziu o pão.
Finalmente, o pão é, para nós, mais do que um alimento. É, também, uma referência cultural da Humanidade e "marcador" indelével da civilizações que foram passando pela bacia mediterranica. E ficamos por aqui.
Mas, uma vez explicado o nosso posicionamento associativo, existe sempre uma visão política do problema.
Segundo dados do INE, cerca de 2.000.000 de portugueses vivem na pobreza ou no limiar da pobreza (pobreza escondida).
Eles não foram criados de supetão! Foram sendo atirados para a pobreza, nos 30 anos de democracia pós-25 de Abril, pelas políticas neoliberais dos chamados partidos do "arco do poder", isto é, PSD e PS. Por aqueles que não desenvolveram, não criaram riqueza, não a redistribuiram, foram socialmente ineptos, etc.
Acredito que, por razões diferentes, todos condenamos, comentamos e desejamos combater a pobreza... É mais uma aitude cristã do que política.
Mas esse facto, esta convergência, fez lembrar as palavras de um já falecido bispo de Olinda e Recife, D. Helder da Câmara, lutador incansável contra apobreza endémica que varria o Nordeste brasileiro, para além de um intrépido adversário da ditadura militar brasileira.
D. Helder, dizia, frequentemente:
"Quando falo dos esfomeados, chamam-me cristão; quando falo das causas da fome, chamam-me comunista"...
É, isto, caros amigos do PSD/Elvas.
[*]http://psd-elvas.blogspot.com/2009/03/socrates-panis-et-circenses.html

O PÃO QUE A ASSEMBLEIA "AMASSOU"...


sal artesanal de Castro Marim


Segundo a recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) o consumo médio diário de sal deve andar à volta de 6 gramas...



Vamos a contas...


Se a regulamentação aprovada ontem, na AR, for cumprimida, um incógnito cidadão ao
comer meio quilo de pão/dia, terá ultrapassado, só com esse alimento, o teor salino recomendável.
Quanto mais economicamente desfavorecido for o cidadão, mais facilmente substituiu a diversidade alimentar, pelo pão.

Portanto, ontem, em termos de saúde, a Assembleia da República esteve a epater le bourgeois...

A complexa questão nutrição e as suas repercursões na saúde não podem ser tratadas a retalho.

Temos ao nosso dispôr, ao nosso alcance, uma alimentação tradicional mediterranica que necessita de ser estudada, revisitada, mas acima de tudo preservada e resguardada nos seus princípios.
Não precisamos de inventar demasiado. Basta melhorar.
Deixemos as invenções para a nouvelle cuisine e para a cozinha molecular.

As alterações introduzidas nos cultivos agrícolas, nomeadamente os novos processos químicos de fertilização e os organismos geneticamente modificados (OGM), impõem novos estudos sobre a pirâmide alimentar mediterrânica.

É um tarbalho para cientistas que deve recolher a experiência de todos. Organismos e associações que trabalham na área do pão tradicional, nomeadamente na sua preservação com todas as características qualitativas, têm, no que diz respeito ao teor de sal e noutros passos da sua confecção, um savoir-faire acumulado que é valioso.




A Confraria do Pão consegue, hoje, um pão com características sápidas (sabor) agradáveis e aprazíveis que deleitam os seus consumidores, utilizando quase metade do teor do sal, ontem, autorizado pela AR.

Como?

Investigando directamente sobre as metologias de confecção do pão, compreendendo a complexidade da rusticidade dos processos de manufactura e seleccionando as farinhas pela sua qualidade. O "Mundo Rural" tem alguma coisa para partilhar com os mais sofisticados laboratórios.

O que ganhou a Confraria do Pão com isso?
- Um processo judicial promovido pela ASAE por "actividades ilegais de panificação"!

As ciências da Nutrição devem encarar, estudar, os problemas alimentares globalmente e integrar conhecimentos, nomeadamente, os empíricos.

Por isso, ontem, na AR, "fingiu-se" que, cientificamente, se cuidou da saúde dos portugueses e das portuguesas. Na verdade, fez-se chicana política com o pão. Não foram os primeiros. Já Maria Antonieta, rainha de França no séc. XVII, o tinha feito. Todos conhecemos o desenlace.









SÓCRATES - Panis et Circenses



A "questão do sal" no pão é um pretexto. Com certeza uma indulgência que tem lugar numa democracia plastificada.
O pretexto é a saúde pública. Falsa desculpa porque, qualquer português arguto, ao olhar para o insaciável mercado confronta-se com produtos "polvilhados" com sal, açúcar, etc.
O pão, só saltou para a ribalta, porque há fome. Para mitigá-la, mais uma vez, corremos atrás do pão...
Bem. Se na verdade temos motivos para nos socorrer do pão para fazer face à miséria galopante que a actual crise instalou, vamos para além de "plastificá-lo" dar-lhe um "ar" saudável. E assim, normalizamos o teor de sal para os 13 a 14grs/Kg
A partir de agora vamos aguentar os agentes da ASAE equipados com "salómetros" (não vão fazer espectrofotometria para determinar as quantidades de cloreto de sódio) - operando de modo similar aos GNR´s com os medidores da alcoolemia (no Brasil chamam-lhe "bufómetros") - à porta das padarias. Um inolvidável espectáculo!
Não combato a redução do teor de sal no Pão. Essa tem sido uma preocupação e um objectivo da Confraria do Pão nas diversas experimentações que tem levado para confeccionar um pão tradicional que seja ao mesmo tempo um bom nutriente e saudável.
Mas esta medida destina-se à produção industrial e pretende vender a ideia de que os poderes constituídos estão atentos à saúde dos portugueses.
O carácter selectivo da regulamentação é que intriga.
Porquê só o pão?
Só entendo a presente regulamentação porque os legisladores têm à sua vista o espectáculo do espectro da fome a crescer, todos os dias, no horizonte das famílias portuguesas.
O Governo está pior do que Roma nos dias da decadência do Império, onde grassava a devassidão e a corrupção.
Esta medida significa que não poderá fazer o mesmo que Roma. Não tem pão para distribuir e o substituto do circo - o futebol - vive dias difíceis, conturbados e suspeitos.
E não havendo pão para ofertar aos famintos, restava ao Governo transformá-lo num produto, de primeira necessidade (o poder tem perfeita consciência disso), mais "saudável".
O resto, aquilo que outros portugueses comem, no dia a dia, pouco importa. Desta vez, questionou-se no Parlamento, sobre as particularidades do pão tradicional.
Penso que a ressalva verbal feita não contempla o articulado legal. Deixamos, novamente, amplo espaço aos burocratas para as suas cavilosas interpretações ou acabamos, como estamos habituados, nos Tribunais.
Deixemos a lei ser publicada.
A normalização de produtos na União Europeia é o supremo êxtase dos burocratas europeus.
Embora os países da UE só possam impor restrições à livre circulação de mercadorias em casos excepcionais, justificados por razões de interesse público, as restrições são o trivial por "medidas de precaução".
Julgo que a circulação ou o intercâmbio do pão na UE, acabou de entrar nessas "medidas"...
O Comité Europeu de Normalização (CEN), não gosta da denominação de "normalização", talvez por ter uma conotação repressiva, prefere-lhe chamá-las de "harmonização".
Desde meados dos anos oitenta até agora foram publicadas mais de 15 000 normas europeias (normas harmonizadas).
Muitas horas gastas em burocracia.
Não devem ter dispendido um minuto para defenderem o pão tradicional, seja português (alentejano, transmontano, açoreano,..), seja italiano (pão de Altamura), seja francês (baguette,...).
Não tendo pão e circo para oferecer, vai contentar-se com a distribuição do "Magalhães"... pejado de erros ortográficos, às vulneráveis criancinhas!

quarta-feira, 11 de março de 2009

«A ASAE DA NOSSA RE(N)D(I)ENÇÃO»

«A ASAE DA NOSSA RE(N)D(I)ENÇÃO»

A Confraria do Pão foi «visitada» pela ASAE durante a madrugada. Há mais de um ano. Consta que, ingenuamente (?) recebeu os Inspectores como «Amigos», não estranhando a hora e a referência «andámos mais de três horas para encontrar a Confraria».
Um mês depois, nova «visita», agora «aparatosa», digna de manchete no Correio da Manhã, para «encerrar a produção». Que foi pronta e Judicialmente objecto de uma Impugnação.
Um ano (!) depois a Justiça vai pronunciar-se. Isto é:
- O mesmo Estado que fez «orelhas moucas» à argumentação da Confraria de que «é estranho que no mesmo dia em que todos os grupos parlamentares conjugam esforços para remediar a lacuna da legislação no que respeita à produção de produtos tradicionais/artesanais, venham exigir-nos o cumprimento de normas que consideramos excessivas e desajustadas»;
- O mesmo Estado que, por inércia, um ano depois (ainda) não tem legislação específica;
- O mesmo Estado que demora um ano a tornar possível a intervenção da Justiça;
- O mesmo Estado que se não preocupa (nem poderá intervir) nos processos de fabrico dos produtos de panificação que, em quantidades muito significativas, atravessam regularmente as antigas fronteiras da raia, nomeadamente alentejana, para abastecer pequenas e sobretudo grandes superfícies comerciais;
- O mesmo Estado que reconhece Projectos de Interesse Nacional onde os alentejanos só antevêem acumulação de riqueza pelos mesmos que os espoliaram do direito ao trabalho;
- O mesmo Estado que «promete muito e cumpre pouco» em benefício dos seus cidadãos, sobretudo do interior, abandonado,
Esse mesmo Estado, dizíamos, reconheça na Confraria do Pão, exemplo cabal de como se pode e deve contribuir para o Desenvolvimento que enche a boca dos Políticos que aceitam desempenhar papel governante, como «inimiga da Saúde Pública» e, através da sua «Polícia» habituada a, segundo alguns, «estar acima da Lei ou ser a própria Lei», a tente silenciar na sua actividade precisamente de promoção da Saúde Pública através do exemplo, incómodo exemplo para os industriais de panificação que utilizam todos os processos para aumentar o lucro, de como é possível, com o Pão Tradicional, concorrer para a promoção da Saúde Física e Mental, contrariando as perigosas doenças modernas como a Diabetes e a Obesidade.
É evidente que sabemos como e porquê são certificados os produtos obrigatórios a consumir na Panificação, em particular, e na Indústria Alimentar, em geral, na União Europeia.
Aliás, entre outros Mestres, tivemos Manel da Fonseca que, mesmo «censurado», nos alertou:

(…) Mas não podemos esquecer
Que o rico é que faz a lei,
Lei fácil de perceber
Pois só aumenta o poder
Aquele que tudo tem! (…)

Como não duvidamos que a tremenda luta de desmontar a hipocrisia reinante vai ser arrastada e penosa.
Não nos convidem, porém, para desistir. A nossa razão de «tratarmos por tu a Felicidade» assenta na forma digna e independente como procuramos pautar a nossa intervenção sócio-cultural. Ou seja, o poder económico não nos assusta precisamente porque «não estamos à venda», nem somos veículos de acordos obscuros…
Enfim, vai ser difícil silenciar a nossa voz!

«O Festival das Açordas Sem Pão»


Pelo terceiro ano consecutivo a Câmara Municipal de Portel levou a efeito um certame que denomina de «Congresso das Açordas».
Primeiro, com alguma esperança de, no seu «festival», o poder autárquico se não esquecer de homenagear os famintos que dignamente sobreviveram durante séculos alimentando-se frugalmente, depois, com a amargura de constatar como afronta a selvajaria alimentar promovida, temos acompanhado a realização, cada vez mais repositória dos banquetes dos ministros de Salazar que o saudoso Jaime da Manta Branca bem retratou em mais uma (verdadeira) homenagem à «Cultura do Pão» num conhecido improviso forçado pelo patrão Magalhães, na presença do Ministro da Agricultura de então, enquanto os senhores se encharcavam em vinho e devoravam um churrasco de uma vitela poupada à fome que o gado do anfitrião suportava e o «Grupo de Cantares (e dançares) Regionais» da povoação (Cano) interrompia a (sua) função apaziguadora das (justas) tensões sociais que a ditadura alimentava muito melhor que o Magalhães a sua «Boiada».
O Jaime, ameaçado de ficar sem os marrocates que o patrão lhe ia dando como paga do seu imenso trabalho de «ganhão», sem perder a dignidade de quem se sente violentado, avançou para o improviso que teve como mote:

Não vejo senão canalha
De banquete para banquete
Quem produz e quem trabalha
Come açordas sem azeite

O Poeta Popular «Carapinha», de Figueira e Barros, então também «ganhão à do Magalhães», testemunha presencial, confirmou-nos que «o Jaime ditou-as até ao fim», isto é, glosou o mote por inteiro, imagina-se com que mal estar para os senhores…
Vantagem da Democracia, hoje os cantares e dançares regionais, tal como a selvajaria alimentar, não são exclusivo de «canalhas», «todos» se podem servir… Só é preciso ter alguns euros (prá entrada e prós comes).
Desvantagem máxima, está democratizada a incultura!
Estamos seguros, se o nosso Jaime se aproximasse do certame seria impedido de «incomodar» por qualquer polícia arregimentada pelo poder, que mais não fosse porque os poetas populares de agora têm que usar gravata e ir à manicure (certificada pela ASAE?) antes de actuarem enquanto decorre o repasto do «Povo votante» e dos senhores Turistas que trarão (?) desenvolvimento à região.
E trazem, pelo menos no aumento do custo de vida na proporção directa do decréscimo da sua qualidade. Sempre pensando no «interesse nacional», concretizado em empreendimentos fartamente subsidiados pelo erário público. Como a banca...
Sempre e só para reforçar o interesse económico. Que nos condiciona o viver.
Contudo, há quem especule, provocatoriamente(?) que:
- os donos das grandes cadeias alimentares que promovem e veiculam o lixo alimentar que provoca e agudiza tantas doenças;
- os donos da Indústria Farmacêutica que produz os medicamentos para «tratar» as ditas doenças;
- e os donos das Clínicas, Hospitais - e qualquer dia também dos Ministérios da Saúde! – que autorizam, prescrevem e utilizam aqueles medicamentos para tratar aquelas doenças
são os mesmos, ou pelo menos… da mesma «família»!
Tal como os políticos que promovem as suas regiões (onde a fome voltou a existir) confundindo as frugais açordas com selvajaria alimentar. Lamentavelmente com a complacência de pressupostas personalidades do mundo científico que já estão, sem o saberem, no caixote do lixo da História.

(João Madureira, in Emílio Peres, – O Médico, O Professor, O Orador, O Escritor, O Político, O Ilustre Sabedor… - «Sem Cultura Não Há Liberdade», págs. 87 e 88, edição da Universidade do Porto, Novembro de 2008)
A Confraria do Pão que Emílio Peres, sem virar a cara a sacrifícios e canseiras, como era seu timbre, ajudou a erguer, só saberá estar à altura da excelência e do rigor do patamar a que ele nos habituou se assumir, como nós, o incómodo destas denúncias.
Em nome do Pão, «não como um pretexto, mas sim como o cerne de um estilo alimentar e de vida, que urge preservar».
E da defesa (médica) da Saúde assente na frugalidade, na sobriedade e no clarividente respeito pela caminhada de milhares e milhares de anos de persistente aperfeiçoamento – afinamento, nas suas doutas palavras!
Porque, como sublinhou Abel Mariné-Font, Professor da Faculdade de Barcelona e uma das maiores autoridades em «Dieta Mediterrânica»:
“É importante que se diga que
aquilo a que chamamos Alimentação Mediterrânica
é a alimentação quotidiana das classes populares do Mediterrâneo,
a qual é historicamente frugal
e basicamente vegetal com predomínio de cereais e legumes”.
(in Actas do I Congresso de Cultura Mediterrânica, «A Sopa: Conceito e Papel na Bacia Mediterrânica», pág. 272, edição da Confraria do Pão (Alentejo), Novembro de 2002)
Pão e Sopa, braço dado, caracterizam, portanto, a essência desta Alimentação.
E não consta que o esfomeado Lazarillo de Tormes, nos seus sonhos, tenha visto a face de Deus em figura de patinho e muito menos das suas «açordas». Via-a em figura de Pão, o incansável mitigador da fome que, com um pouco de água e uns escassos poejos, mesmo sem azeite, saciou tantos e tantos antepassados dos patos bravos de agora.
Em tempo, esta «provocação» inaugural do Blog tornou-se imperiosa face ao comentário de um visitante do «Festival» que, esta manhã nos confessou a sua desilusão por lá não ter encontrado «pão verdadeiro», como entende necessário para fazer uma verdadeira AÇORDA!
Terminando, por hoje, sem preconceitos politiqueiros, fico a meditar no facto do Senhor Presidente da Câmara de Portel, organizadora do «Festival», ser também o Presidente da Federação Distrital do Partido Socialista.

Finalmente



Sou Confrade fundador da Confraria do Pão (Alentejo). Assumo por inteiro essa condição. Procurarei evitar fundamentalismos, mas não deixarei de tentar opinar em tudo o que directa e indirectamente estiver relacionado com o Projecto de Desenvolvimento que, cojuntamente com outros Homens, começámos a construir em 1999.