quarta-feira, 22 de abril de 2009

OS «FUNCIONÁRIOS» DA COMISSÃO


No Tribunal de Estremoz, a 19 de Abril último, foram lidas as «Respostas ao Quesitos» da Acção que a Ratel pôs contra a Confraria do Pão (fornecimento de Equipamento).
Muito haveria para comentar dado que a Confraria parece não ter conseguido provar o verdadeiro alcance da trama em que se deixou envolver.
Deixando à digna e douta mandatária, Drª Constança Maltez, cuja irrepreensível postura profissional prestigia a Confraria, a abordagem, em sede própria, da matéria que entenda oportuno ver (melhor) esclarecida, não posso silenciar duas afirmações do Senhor Doutor Juiz. Concretamente:
1. Um dos quesitos em discussão respeitava à responsabilidade inequívoca da CCRA e da RATEL na garantia de aprovação do Projecto, cujo teor referia
«Tanto a Autora (Ratel) como os representantes da AIZM/CCRA asseguraram à Ré que o Projecto referido seria aprovado e os subsídios comunitários concedidos?»
Entende o Senhor Doutor Juiz, face o conteúdo dos testemunhos que reteve, que
«apenas se provou que funcionários da AIZM/CCRA asseguraram à Ré que o Projecto referido seria aprovado».
Mais, na sua douta fundamentação, afirma «A actuação – abusiva – de alguns dos seus funcionários não a pode vincular». À CCRA, refere-se.
Aparentemente, estas «conclusões» não seriam graves para a decisão da causa a favor da Confraria do Pão. Contudo, apesar de passíveis de recurso, entendo que desde já deve ficar esclarecido:
- Todas as testemunhas que a Confraria arrolou para responderem a este quesito sabem muito bem que não se tratou de «funcionários» como refere o Senhor Juiz. E disseram-no em Tribunal. Tratou-se do Coordenador da AIZM (Acção Integrada da Zona dos Mármores), o número três na hierarquia da Comissão de Coordenação, e de um dos Vice-Presidentes da CCRA, a ocupar a Presidência. Cargos de nomeação política.
- Acresce que o Gerente da Ratel, amigo íntimo do Vice-Presidente em causa e do Coordenador, serviu-se junto da Direcção da Confraria desse «poder» para, repetidamente, garantir a aprovação do Projecto, tendo ido ao ponto, para justificar porque não levantava os materiais que, desde o início, a Confraria recusara «mesmo com a aprovação do Projecto e a concessão do subsídio» por excessivos e desajustados à sobriedade com que pautava e pauta o seu viver, de «convocar» uma reunião entre o «seu» Vice-Presidente e o Presidente da Confraria, na sua presença, para que, uma vez mais, fosse garantida a aprovação do Projecto.
Na verdade a «reunião» transformou-se em «Almoço de Trabalho» mas o seu conteúdo manteve-se inalterado e a confirmação foi absoluta. No dia 19 de Junho de 2002, dois meses e meio depois do depósito do equipamento escolhido pelo Gerente da Ratel e de que a responsabilidade da Confraria é exclusivamente formal.
Como, aliás, já foi publicitado no artigo «O Pão, o Poder e a Corrupção», que o «Há Tanta Ideia Perdida», jornal da Confraria, publicou em 2004 e nunca foi contestado – nem poderia ser uma vez que corresponde integralmente à verdade – por nenhum dos visados.
Pelo que, mantemos, e deverá a Confraria do Pão manter até ao final da demanda e, sobretudo, para a História desta pobre região do mundo usurpada e vilipendiada pelos «novos vampiros», que
«Tanto a Autora (Ratel) como os representantes da AIZM/CCRA asseguraram à Ré que o Projecto referido seria aprovado e os subsídios comunitários concedidos». E por representantes dever-se-á entender, os principais dirigentes.

2. A segunda questão que não deixaremos passar sem comentários, respeita ao quesito que rezava
«Desde o seu fornecimento em Fevereiro de 2002 a Ré tem vindo a utilizar diariamente tais materiais?»
Entendeu o Senhor Juiz que se provou, com os testemunhos dos funcionários da Ratel e os arrolados pela Confraria, que
«Desde o seu fornecimento em Fevereiro de 2002 a Ré tem vindo a utilizar ocasionalmente tais materiais?»
Na verdade, os testemunhos dos funcionários da Ratel, que na sua fundamentação o Senhor Juiz considerou que «depuseram de forma coerente, credível e desinteressada», foram inequívocos em duas afirmações:
«Não voltaram a entrar na Confraria depois de Março de 2002»; o que, curiosamente, é falso, voltaram por duas vezes a tentar resolver o problema dos esgotos das bancadas e da máquina de lavar, sem sucesso.
«Passaram na Estrada e, pelo número de automóveis estacionados, souberam que o material colocado estava a ser utilizado pela Confraria (sic)».
Já os testemunhos do João Cordeiro, do João Godinho, do Ti Limpas e do Mestre Marcelino Paulino, que não sabemos se estarão incluídos nos considerados «pouco credíveis», os quais, com entrada regular na Confraria, «provaram» que:
- boa parte dos materiais nunca foram utilizados;
- parte destes só ficaram na Confraria provisoriamente até o Senhor Gerente da Ratel os mandar levantar e ainda hoje permanecem «encaixotados»;
- a esmagadora maioria está desmontado e às ordens da Ratel há mais de 4 anos;
- só as cadeiras (metade do total), a máquina de café e respectiva bancada tiveram uma utilização ocasional,
não terão bastado para dar como provado o que aconteceu.
E de nada (?) serviu fazer saber ao Tribunal que desde Setembro de 2000 se realizam na Confraria eventos com refeições confeccionadas para centenas de pessoas com na nossa Cozinha «Velha». Os «credíveis e desinteressados» empregados da Ratel, passando de automóvel na Estrada Nacional, têm o condão de perceber que o fogão que estamos a usar é «o supersónico a pagar com o subsídio», preterindo os que já tínhamos antes e continuamos a ter e usar. E que as cadeiras que o seu ex-patrão facturou a três vezes o valor do mercado são preferidas às 122 que a Confraria comprou… um ano antes do Congresso… mesmo que as fotos, inúmeras fotos, publicadas no nosso Jornal dos eventos realizados posteriormente a Março de 2002, incluindo o Congresso de Cultura Mediterrânica, mostrem os participantes sentados… nas nossas cadeiras.
Para a História, as cadeiras de um dos Auditórios, só serviram para quatro Assembleias Gerais (todas realizadas antes da facturação), a apresentação do Livro do Ti Limpas e umas Jornadas Médicas de dois dias. Menos que ocasional, portanto, o seu uso ao longo de sete anos. A máquina de café, um pouco mais, umas trinta vezes.
Uma consideração final. Assistimos a todo o Julgamento. Estamos convictos que pelo menos duas das nossas testemunhas afirmaram – parece que sem credibilidade para o Senhor Doutor Juiz – aquilo que todos, principalmente o gerente da ratel, sabem: que se o Projecto não fosse aprovado a Ratel recebia a maioria dos materiais de volta e os preços dos que ficassem seria alvo de significativo desconto.
Conclusão, provisória: lamentavelmente, o que os Tribunais provam nem sempre corresponde à verdade.

sábado, 11 de abril de 2009

LAZARILHO DE TORMES & AS TORMENTAS



"La vida de Lazarillo de Tormes" e os relatos das suas fortunas e adversidades, é uma novela espanhola anónima, cuja edição data de 1554.


É considerada a precursora da novela picaresca, estilo literário que teve muita popularidade na Península Ibérica.


Um dos expoentes deste tipo de novela foi "D. Quixote de La Mancha" de Miguel Cervantes, outro terá sido, "A Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto, para dar mais 2 exemplos...


Lazarillo de Tormes é un esboço irónico e desapiedado da sociedade do momento, onde se mostram os seus vícios e as atitudes hipócritas passadas.
Como nos filmes - qualquer semelhança com a realidade actual é pura coincidência...



Vamos ao texto do incógnito Lazarilho:

"Mas como la hambre creciese, mayormente que tenía el estómago hecho a más pan aquellos dos o tres días ya dichos, moría mala muerte; tanto, que otra cosa no hacía, sino abrir y cerrar el arca y contemplar en aquella cara de Dios, que ansí dicen los niños.
Mas el mesmo Dios, trujo a mi memoria un pequeño remedio: “Este arquetón es viejo y roto por algunas partes, aunque pequeños agujeros. Puédese pensar que ratones, entrando en él, hacen daño a este pan. Sacarlo entero no es cosa conveniente (...).

Y comienzo a desmigajar el pan, y tomo uno y dejo otro, de manera que en cada cual de tres o cuatro desmigajé su poco.


Mas él, como viniese a comer y abriese el arca, creyó ser ratones, miró todo el arca y llamóme, diciendo:
- ¡Lázaro, mira, mira qué persecución ha venido aquesta noche por nuestro pan!


Yo híceme muy maravillado, preguntándole qué sería.

- ¿Qué ha de ser? – dijo él - . Ratones, que no dejan cosa en vida.Luego, él rayó con un cuchillo todo lo que pensó ser ratonado, diciendo:

- Cómete eso, que el ratón cosa limpia es.

Y así aquel día, añadiendo la ración del trabajo de mis manos – o de mis uñas, por mejor decir – acabamos de comer. "

Foi assim no século XVI....

terça-feira, 7 de abril de 2009

PA AMB TOMÀQUET (Pão da Catalunha)...


Chego a Espanha, melhor, ao País Catalão, cansado, determinado a passar uns dias com a família. Mostrar-lhes Mundo…

Mas, logo à chegada tenho, invariavelmente, um problema.

Estas viagens (mesmo as curtas), os preparativos, as demoras e as burocracias aeroportuárias, a humilhante necessidade de retirar o cinto, quando não de descalçar-me, transformam-me num indigente esfomeado…

E, sem sofrer de gula, nem de apetites incontrolados, perco-me pelas comidas regionais, perseguindo, implacavelmente, os petiscos tradicionais.

Entro numa casa de tapas preparado para tapear e beber uma caña (cerveja), como normalmente faço na terra de Cervantes…

Acabado de encostar-me à barra (balcão), sou mimoseado - antes de fazer qualquer gesto - com um bocadillho de pão, aberto ao meio, com as duas faces contrapostas irregularmente besuntadas de uma tonalidade escarlate onde alguém com maestria esfregou um tomate partido (segundo ritual próprio) e, discretamente, acrescentou com um pouco de azeite cru, para lhe dar um húmido e espesso… cheira-me a Gaudi, a Miró, Picasso, …

Então toco ao de leve na perna do meu filho pré-adolescente e segredo-lhe:
- Chegamos a Barcelona!

Bebemos (os pequenos… sumos) e comemos, melhor picamos, aqui e acolá, até saciar a ansiedade.

Antes de pedir la cuenta, chamo, de novo, o meu rapaz e aponto-lhe

- Vês lá em baixo aquela imensa água azul-esverdeada?

- Sim, diz-me ele: é o mar!

- De facto é! Mas quando chegares a um local diferente, a uma casa de família, a um restaurante, a uma taberna e te oferecerem pão barrado com tomate e azeite e, ao longe, vires uma imensidão de água, é o mar. Mas, um mar especial.

- É o Mediterrâneo!

Pai, o que é o Mediterrâneo?....

Bem! Essa é a história que a partir daqui vais começar a aprender…