domingo, 9 de maio de 2010

MEDITERRANEIDADES (2)



Termina hoje, em Évora, um evento inscrito na estratégia dos descendentes do Giraldo Sem Pavor, chefe de um bando de salteadores que aniquilou a harmonia reinante na urbe nos tempos da moçarabia, de que o Alentejo guarda religiosamente muitas e boas memórias, nomeadamente a frugalidade do comer e a sobriedade do viver.
Ontem foi disparado o tiro de partida para o esbanjamento dos recursos que já não temos na construção do troço de TVG, que vai passar por Évora. Daqui por semanas, será a vez do novo aeroporto, a menos de uma hora de Évora e do «Turismo do Alentejo».
Há dias foi a vez da prazenteira presença do poder e seus lacaios no beija-mão ao(s) banqueiro(s), em Alqueva.
Num e noutro caso o pretexto é conhecido, que não reconhecido. Trata-se do «desenvolvimento». O mesmo que está subordinado à engenharia económica, mãe dos
offshores que os mais descarados governantes, seus amigos e donos, transportam no ventre.
Chegados ao ventre, sai a ignomínia. Os organizadores do evento dito «das gastronomias mediterrânicas» (http://www.alentejodasgastronomiasmediterranicas.com/) convidaram a Confraria do Pão para participar. Como «panificadora», lado a lado com os produtores de vinho e de azeite, em pavilhão onde pretendiam que servíssemos aos visitantes provas de Pão.
Acontece que a Confraria foi a organizadora, em 2002, do Congresso de Cultura Mediterrânica. Por onde passaram académicos probos entre os quais Eduardo Lourenço, Pedrag Matvejevitc, Mostafa El-Abbadi e muitos outros.
Isto é, há oito anos. Tantos como o ignominioso poder que nos deixa saquear julgava suficientes para nos exterminar, tamanhas as traições que rubricou e as dificuldades que nos criou, rematando com a polícia e os tribunais.
Que nos redobraram o querer e nos esclareceram sobre a determinante importância da nossa acção sócio-cultural e científica.
Não conseguiram fazer-nos esmorecer. Mas continuam a tentar, agora com todo o tipo de aliados, por acção, muitos, outros por omissão; todos comprados pelo rei milhão.
Com certeza que recusámos a provocação. Premeditada. O nosso Pão é, agora, «o Pão dos Pobres» e, quando necessário, «o Pão da Fome». Para resistir às sofisticadas ofensas dos abastados, simultaneamente herdeiros do salteador giraldo-giraldo e do nuno-de-bragança que fizeram de santa maria. Nunca para fingir ignorar as suas origens e desígnios.
Prometemos que (ainda) cá estaremos quando Balboa for aprovada (no papel, porque não passará disso provavelmente) para servir de pretexto aos cortes nos pins. E ao corte na réstia de esperança da juventude alentejana, que nunca nos fundos perdidos dos amigalhaços da UE.
Os politiqueiros sempre foram exímios em pinos. Com e sem vara. Para trás, pró lado e às vezes até prá frente, para simular progresso. Veremos quem, na altura será contra Balboa e quantos dos politiquinhos que agora dizem ser contra se quedarão… mudos.
Pobre Alentejo que acredita na bondade das migalhas oferecidas pelos banqueiros, seus comparsas e servidores, que lhe saqueiam o PÃO! Um dia, ao romper da aurora, deparar-se-á com um vazio, com as aldeias e campos abandonados; a terra, a água e até as consciências poluídas; os empreendimentos turísticos às moscas, as fortalezas conspurcadas e saqueadas e os campos de golfe com dúzia e meia de ovelhas a pastar.
É que «o dia já não é uma criança». E não é preciso ser sábio para perceber que, nesse dia, depois da última ceia pós moderna, os senhores e seus fantoches e meninos do coro, terão fugido para paraísos fiscais onde a TMN tenha rede, a PT, o BPN, o BCP e a CGD tenham delegações, e os sucateiros e garageiros sejam donos dos empreendimentos turísticos.
Se for Cabo Verde, tanto melhor, ficam mais perto do Tarrafal. Vá lá adivinhar-se quanto tempo, então, demorará a mudarem-se para o motel onde deviam estar há já muito tempo. Sem a conhecida frigideira do Salazar. Mas com os óleos e outras mixordices que a fundação do coração patrocina como «saudáveis» a troco do vil metal e, quiçá, agora já como mediterrânicos. E, claro, com direito a assistência médica. Especializada no embuste e na hipocrisia, de preferência.
Com fundada esperança e renovado vigor, voltarão então a soprar os ventos do Mediterrâneo universal que varrerão da terra, do ar e do mar os verdadeiros responsáveis pelo(s) fundamentalismo(s) que arrasa(m) o mundo.

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