domingo, 23 de maio de 2010

Os equívocos de Alegre, do BE e dos «seus» Autarcas


«Tentativa de HOMENAGEM a J.L. SALDANHA SANCHES»

Morreu há dias um dos mais dignos políticos que este pobre país teve.
Antes de Abril, pagou com a prisão a tenacidade com que combateu a ditadura.
Depois de Abril continuou a recusar o comodismo a que muitos se encostaram.
Mais tarde, quando «a jovem democracia» começou a enveredar pelos caminhos do oportunismo que escancarou as portas à corrupção, já doutor em Direito, continuou integro no seu combate pelos ideais de Liberdade, Fraternidade e Igualdade que sempre nortearam o seu viver.
Quando a «corrupção organizada» se abateu sobre a Confraria do Pão, não hesitámos em dele nos socorrermos. Nem ele hesitou em nos demonstrar solidariedade activa.
Recordá-lo é, pois, motivo de responsabilidade que nos apraz. Por Justiça, a mesma com que perfumou o seu e nosso viver.
Morreu com a mesma dignidade com que viveu. Pouco tempo antes, escrevia na Semanário Expresso:

«O PEC é a factura que vamos pagar por anos e anos de saque organizado e contínuo dos recursos públicos, por uma vasta quadrilha pluripartidária que vive de comissões, subornos e tráfico de influências.»


«Para o Bloco de Esquerda, estas questões são secundárias.»

E, centrando-se nas eleições presidenciais, afirmou:

«… nenhum candidato que queira assumir de forma séria os reais problemas do país e que não aceite facilmente os trinta dinheiros que compram tudo e todos não pode enfiar a cabeça na areia e fingir que a corrupção, ao nível que atingiu, é apenas mais um dos problemas do país. Um candidato sério tem que ter o saque da res publica no centro da sua agenda política. Tem que ter coragem para enfrentar aquela frente tão difusa como bem estruturada que consegue fazer da corrupção uma questão sobre a qual se desliza sem grande atrito e sem consequências pode eventualmente abordar-se o tema, mas rapidamente o discurso desliza dessa para outras questões.»

Alertando para a cada vez maior evidência de

«Corremos o risco trágico de ter candidatos a atirar impropérios à ganância dos especuladores internacionais, mantendo um silêncio cúmplice sobre os métodos de gestão da coisa pública que nos deixaram indefesos e impotentes nas suas mãos.»

Para rematar com este avisado prenúncio:

«Ficar calado, refugiar-se em minúcias técnicas, andar de braço dado com os fautores públicos e notórios da corrupção tem que ter um preço. E esse preço é a assunção pública e expressa de que se trata de um candidato de um regime apodrecido. Por isso, para Alegre a opção é clara: ou procura o apoio das quadrilhas que nos roubam impunemente, ou guarda um silêncio cúmplice e envergonhado a troco de meia dúzia de votos, ou toma sobre a corrupção uma posição digna e inequívoca.»

Estávamos no princípio de Abril do ano corrente. Daí para cá, antes e depois do mundo ter mudado para o primeiro ministro, assistimos a desenvolvimentos nacionais, regionais e locais, neste caso nas margens da «grande charca de Alqueva», em que cada vez ficou mais patente o apodrecimento do regime.
No alegre candidato presidencial (do regime) e seu silêncio cúmplice…
No partido que o apoia desde a primeira hora, ainda às portas do poder mas já esturricado. Pelo regime.
No exercício do poder autárquico, cada vez mais conluiado com «os fautores públicos e notórios da corrupção», mesmo (ou sobretudo?) quando «independente».
Ou seja, «os trinta dinheiros» funcionaram.
Resta-nos conjugar esforços para fazer com que «o regime vindouro» também seja uma justa Homenagem aos Homens que combateram coerentemente a bicharada que corroeu a democracia e saqueou a rés pública.
Como José Luís Saldanha Sanches, que guardaremos nos nossos corações para que a memória da sua vida nos anime nas lutas, tremendas lutas, que ainda teremos de travar para que a aurora redentora seja uma realidade.

domingo, 9 de maio de 2010

MEDITERRANEIDADES (2)



Termina hoje, em Évora, um evento inscrito na estratégia dos descendentes do Giraldo Sem Pavor, chefe de um bando de salteadores que aniquilou a harmonia reinante na urbe nos tempos da moçarabia, de que o Alentejo guarda religiosamente muitas e boas memórias, nomeadamente a frugalidade do comer e a sobriedade do viver.
Ontem foi disparado o tiro de partida para o esbanjamento dos recursos que já não temos na construção do troço de TVG, que vai passar por Évora. Daqui por semanas, será a vez do novo aeroporto, a menos de uma hora de Évora e do «Turismo do Alentejo».
Há dias foi a vez da prazenteira presença do poder e seus lacaios no beija-mão ao(s) banqueiro(s), em Alqueva.
Num e noutro caso o pretexto é conhecido, que não reconhecido. Trata-se do «desenvolvimento». O mesmo que está subordinado à engenharia económica, mãe dos
offshores que os mais descarados governantes, seus amigos e donos, transportam no ventre.
Chegados ao ventre, sai a ignomínia. Os organizadores do evento dito «das gastronomias mediterrânicas» (http://www.alentejodasgastronomiasmediterranicas.com/) convidaram a Confraria do Pão para participar. Como «panificadora», lado a lado com os produtores de vinho e de azeite, em pavilhão onde pretendiam que servíssemos aos visitantes provas de Pão.
Acontece que a Confraria foi a organizadora, em 2002, do Congresso de Cultura Mediterrânica. Por onde passaram académicos probos entre os quais Eduardo Lourenço, Pedrag Matvejevitc, Mostafa El-Abbadi e muitos outros.
Isto é, há oito anos. Tantos como o ignominioso poder que nos deixa saquear julgava suficientes para nos exterminar, tamanhas as traições que rubricou e as dificuldades que nos criou, rematando com a polícia e os tribunais.
Que nos redobraram o querer e nos esclareceram sobre a determinante importância da nossa acção sócio-cultural e científica.
Não conseguiram fazer-nos esmorecer. Mas continuam a tentar, agora com todo o tipo de aliados, por acção, muitos, outros por omissão; todos comprados pelo rei milhão.
Com certeza que recusámos a provocação. Premeditada. O nosso Pão é, agora, «o Pão dos Pobres» e, quando necessário, «o Pão da Fome». Para resistir às sofisticadas ofensas dos abastados, simultaneamente herdeiros do salteador giraldo-giraldo e do nuno-de-bragança que fizeram de santa maria. Nunca para fingir ignorar as suas origens e desígnios.
Prometemos que (ainda) cá estaremos quando Balboa for aprovada (no papel, porque não passará disso provavelmente) para servir de pretexto aos cortes nos pins. E ao corte na réstia de esperança da juventude alentejana, que nunca nos fundos perdidos dos amigalhaços da UE.
Os politiqueiros sempre foram exímios em pinos. Com e sem vara. Para trás, pró lado e às vezes até prá frente, para simular progresso. Veremos quem, na altura será contra Balboa e quantos dos politiquinhos que agora dizem ser contra se quedarão… mudos.
Pobre Alentejo que acredita na bondade das migalhas oferecidas pelos banqueiros, seus comparsas e servidores, que lhe saqueiam o PÃO! Um dia, ao romper da aurora, deparar-se-á com um vazio, com as aldeias e campos abandonados; a terra, a água e até as consciências poluídas; os empreendimentos turísticos às moscas, as fortalezas conspurcadas e saqueadas e os campos de golfe com dúzia e meia de ovelhas a pastar.
É que «o dia já não é uma criança». E não é preciso ser sábio para perceber que, nesse dia, depois da última ceia pós moderna, os senhores e seus fantoches e meninos do coro, terão fugido para paraísos fiscais onde a TMN tenha rede, a PT, o BPN, o BCP e a CGD tenham delegações, e os sucateiros e garageiros sejam donos dos empreendimentos turísticos.
Se for Cabo Verde, tanto melhor, ficam mais perto do Tarrafal. Vá lá adivinhar-se quanto tempo, então, demorará a mudarem-se para o motel onde deviam estar há já muito tempo. Sem a conhecida frigideira do Salazar. Mas com os óleos e outras mixordices que a fundação do coração patrocina como «saudáveis» a troco do vil metal e, quiçá, agora já como mediterrânicos. E, claro, com direito a assistência médica. Especializada no embuste e na hipocrisia, de preferência.
Com fundada esperança e renovado vigor, voltarão então a soprar os ventos do Mediterrâneo universal que varrerão da terra, do ar e do mar os verdadeiros responsáveis pelo(s) fundamentalismo(s) que arrasa(m) o mundo.

MEDITERRANEIDADES (1)


MUDANÇAS, FESTANÇAS E AS ANDANÇAS DOS NOVOS BRAGANÇAS
«E se todo o mundo é composto de mudança…», dizia o poeta. Nada a opor, pelo contrário, mesmo com o conservadorismo do poder temporal que condicionou o mundo ao longo dos últimos dois mil anos, tem sido a vontade de «mudança» que vem animando as transformações e conquistas da Humanidade.
Contudo, nem todas as alterações contribuíram para o edifício da felicidade humana. Nestas, sem favor, reconhecemos uma mistura explosiva, mãe da criação: a emoção e a razão, braço dado, sem preconceitos de hierarquia, antes seguras de que o contexto determina, em cada mudança, qual das duas assume maior protagonismo… no momento.
Em muitas outras, como as que atravessam hoje o Alentejo, reconhece-se a bestialidade e a estupidez com que os gananciosos querem, a todo o custo e velocidade, saquear… o que houver ainda disponível. A emoção cede lugar à frieza e a razão ao calculismo.
Também explosiva, não da criação mas da destruição, esta mistura é tipo Bomba de Neutrões … pós-moderna. Arrasa a pobreza, neutraliza a razão restante dos (ainda) não miseráveis, intoxica o pensamento dos menos desinformados e estende os fragmentos até aos cofres da poupança dos incautos. Que pulveriza com a magia só ao alcance dos despudorados para que, qual milagre sancionado pelo santo ofício, vá reaparecer, multiplicada, nos odres dos governantes e seus donos, mais nestes do que naqueles.
«Vem-nos à cabeça uma frase batida», dizia o Sérgio; vem-nos à memória uma mão cheia de factos recentes, em Portugal e por todo o mundo governado pelo «rei milhão», imagem doutro poeta que trazemos no coração. Enfim, percebe-se a agonia revoltosa do sistema, «há que aproveitar enquanto isto está a dar». E como para esta gentalha os fins justificam os meios, imagina-se as ignomínias que subscrevem sempre que se deparam com a crítica e a denúncia.