(Sociólogos como Ami Fahmi falam da
cultura egípcia como a “cultura do pão”)
Os Egípcios foram, há uns milénios, um Povo que contribuiu de forma importante para moldar a «Cultura do Pão», pautada pela sobriedade e pela paciência.
O Mediterrâneo, berço da Civilização que trouxe a Humanidade até aos alvores do modernismo, foi culturalmente construído com a participação da civilização egípcia. Cleópatra não deu – e colheu – só amor (e prazer) com o Imperador Romano; marcou-o de modo tão profundo que a profissão de Padeiro veio a assumir em Roma o grau equivalente ao de Funcionário Público (médio-superior, não sujeito a despedimento) da actual Europa liberal.
Nos alicerces das Pirâmides faraónicas que impressionam os turistas modernos, está uma cultura que sobrevivia graças à sua essência pautada pelo Pão (cada escravo que nelas trabalhava recebia três quilos de pão por dia) e pela paciência com que, pedra a pedra, se chega à… eternidade.
Aliás, o Pão no Egipto é um objecto sagrado. Ainda hoje, entre as populações campestres e dos bairros populares, é um hábito corrente colocar-se a mão sobre um naco de pão, para juramentar atitudes e situações. E o pão continua a ser um dos poucos objectos que, encontrado caído no chão, não se pode pisar. Apanha-se carinhosamente e de seguida, beija-se.
Estes últimos dias voltaram a trazer-nos o aroma do que de melhor teve – e, felizmente, continua a ter – esse Povo irmão. Povo que a VI esquadra americana que domina o mediterrâneo há décadas, e a estratégia imperialista que lhe tem estado subjacente – cruamente condenada pelos tempos recentes - nos fizeram relegar para figura menor do viver contemporâneo, tal a passividade com que aceitava ser governado por um conjunto de títeres – com o faraó possível em comandante-chefe! Já sabíamos que estes governantes estavam exclusivamente apostados em enriquecer na razão directa do quanto se ajoelhavam aos mais obscuros desígnios do terror americano-sionista, mesmo que para tal fosse necessário – e foi! – «deixar sem pão» os seus irmãos palestinianos.
Até que os ventos mudaram…
Primeiro, no evidente confronto que atravessa a sociedade americana e europeia, dividida entre os que promovem a guerra como remédio para todos os males – nos quais se incluem os clintons, vergados à estratégia sionista – e os que já entenderam que o caminho só poderá ser o do diálogo e respeito cultural, como eficaz antídoto para a disseminação e aprofundamento do(s) fundamentalismo(s) – islâmico, sionista, neo-liberal e outros – que a estratégia do terror fez medrar por todo o mundo, sobretudo naquele em que, significativamente, as religiões e culturas se haviam habituado a, tolerantemente, viver e conviver, o dito Próximo Oriente, onde das entranhas da terra jorra o ouro negro de que o viver opulento das sociedades ocidentais tanto depende.
Que mais não fosse pelo seu discurso, o qual se inscreve claramente neste último grupo, Obama, transportando apaziguadamente nos genes o multiculturalismo tão do desagrado do Blair da moda, Cameron de seu nome, bem merece a bênção de ser o Presidente americano neste tempo em que, como reconhece e diz, se está a fazer a História.
Depois, no mundo árabe, condicionado pelas elites governantes corruptas e promotoras do terror e sufoco dos mais elementares direitos e anseios dos seus povos, condição assaz propícia a que os fundamentalismos medrem. E de que resultou uma cada vez maior consciencialização dos mais jovens, arautos das transformações em curso, as quais dificilmente serão controladas pelos habituais «governantes de segunda linha», tipo partidos esclerosados e sindicatos acomodados.
E se é inquestionável que os tempos actuais anunciam o fim das ditaduras a curto ou médio prazo, menos evidente parece ser que também serão o preâmbulo de uma nova era em que as «organizações do poder» assentem numa dialéctica de permanente controlo e fácil sufrágio por parte dos representados, que lhes permita ter o efectivo poder de decidir «como se reparte o pão», muito mais do que a ambição de (se) substituírem aos (tradicionais) donos do mesmo.
Será, em suma, um regresso (necessário) à essência da Revolução Francesa, a qual, antes de libertar os presos, tratou de ir à Bastilha recuperar os cereais aí armazenados para aliviar, com Pão, a fome dos humildes!
Ser o exemplo da juventude egípcia a mola propulsora desta transformação é motivo de duplo regozijo para quem, como nós, aceita as virtudes da rebeldia criativa inerente à juventude e, por outro lado, julga importante a ancestral sabedoria de todas as culturas; neste caso da egípcia, decisiva para «a Cultura do Pão», a qual, irradiando do Mediterrâneo, se transformou em Universal.
E, ao contrário do que propagam os estrategas do terror, que tal venha a ser possível com o contributo dos «Irmãos Muçulmanos», não só não é motivo de preocupação como, em nossa opinião, é outrossim motivo de cauteloso entusiasmo, ao menos enquanto e se essa organização «maçónica» não for atravessada pela ganância e a opulência que, no Mediterrâneo Norte, transformou grande parte dos seus «irmãos pedreiros» que chegaram à esfera do poder em verdadeiros e descarados … usurpadores, ao menos na insensibilidade com que arrecadam «o pão» em offshores, distribuindo míseras «migalhas» que já nem chegam para «matar a fome» à plebe que se esforçam por manter… alienada e ignorante.
Até ver, como dizia o poeta-cantor e os próximos tempos se encarregarão de nos esclarecer.
Decisivamente, estamos em crer, quando a juventude israelita, tão generosa quanto a egípcia, liberta das amarras que a alienam, se levantar para, em uníssono com as demais, proclamar o direito a que todos os povos vivam em harmonia, com Liberdade, com com Pão e em Paz . Tanto em Jerusalém, em Gaza e na Cisjordânia, como nas margens do Nilo, do Tigre ou do Eufrates.
Tal como no Tibete, na China, no Afeganistão ou no Irão, em Angola, no País Basco ou na Madeira.
Enfim, em todo o Novo Mundo que, não duvidamos, já aí vem, depois de derrotarmos sem apelo nem agravo os que promovem e se governam do terror, da miséria, da alienação e da ignorância!